População de Cerveira aumentou em contraciclo com o país. Imigração é "essencial"
A população no concelho de Vila Nova de Cerveira cresceu, em média, 1,5% por ano, desde 2021. Tudo indica que possa continuar a aumentar nos próximos 10 a 30 anos, mas o fator-chave passa pela imigração e pelo retorno de emigrantes.
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Segundo um estudo realizado por José Cunha Machado, investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho, apresentado em conferência de imprensa, esta sexta-feira, aquele município ganhou mais de meio milhar de novos residentes nos últimos quatro anos e conta atualmente um total de 9425 habitantes (dados de dezembro de 2024). Aumentaram tanto os residentes masculinos como as pessoas em idade ativa e até os maiores de 65 anos, por causa dos emigrantes que retornam. O saldo migratório é positivo, com “uma média anual de chegada de 200 imigrantes”.
José Cunha Machado defende que este é um cenário de exceção em relação ao resto do país, mas que, para se manter ou continuar na curva ascendente, passará sempre pela imigração, o que também se perspetiva a nível nacional. “A imigração é central e essencial para a dinâmica da população”, resumiu o investigador, após a apresentação do Estudo Demográfico e de Projeção da População na câmara de Vila Nova de Cerveira, considerando que aquele “é um dos poucos municípios em Portugal que está em crescimento e que tem perspetivas tão favoráveis”. “Se olharmos para o resto do país, isto não acontece. Cerveira é, de facto, uma boa exceção no contexto nacional”, declarou.
Num concelho onde até à vaga de emigração massiva da década de 60 do século XX a população superava os 10 mil habitantes, o especialista entende que é possível regressar a esses números e até, num cenário “mais otimista”, atingir a fasquia dos 12 mil residentes nos próximos 30 anos, mas sempre apostando nos fluxos migratórios.
“Se queremos que a população cresça, só há dois processos: ou através do incremento da fecundidade, ou através do incremento da imigração. No caso da fecundidade, não podemos impor às pessoas que tenham mais filhos, porque depende das liberdades individuais de cada um. E são cada menos os casais que tem dois filhos ou mais”, defendeu, considerando que, assim, tanto em Cerveira com em todo o território nacional, o cenário demográfico está agora nas mãos da própria população.
"Solução é mesmo através da imigração"
“Hoje, em Portugal, somos 11 milhões e temos de decidir se amanhã queremos ser apenas nove ou se queremos manter os 11 milhões. E é inevitável: a solução é mesmo através da imigração. Não temos formas de evitar as saídas do jovens, um fator negativo, e temos de produzir formas de trazer novos migrantes”, afirmou Cunha Machado.
"As políticas migratórias são centrais naquilo que nós queremos que seja o futuro do país, pensando também no Estado Social. Se queremos manter o Estado Social temos que ter população ativa que contribua para que aqueles que são hoje os ativos e amanhã os idosos, tenham as condições que esperam e desejam ter no futuro”, acrescentou o investigador.
Quanto a Vila Nova de Cerveira, o especialista entende que “neste momento as perspetivas são muito positivas”. “A população tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos. Desde 2018 a um crescimento mais lento até 2021, a cerca de 0,5% ao ano, e nos últimos quatro anos tem aumentando ao ritmo de 1,5% ao ano, ou seja, é um aumento muito significativo”, indicou, referindo que há "índices de potencialidade [mulheres em idade fértil] e de rejuvenescimento da população ativa muito interessantes, ou seja, que podem contribuir para uma evolução [demográfica] muito positiva".
População jovem a aumentar
"A população ativa mais jovem está a crescer em relação à população ativa menos jovem, e as projeções que fizemos mostram-nos que, dependendo dos cenários que traçarmos, mesmo com níveis de fecundidade baixos, conseguimos atrair pessoas e conseguimos nos próximos dez anos manter este ritmo, mas se não tivermos migração, daqui a dez anos estaremos em queda", salienta Cunha Machado.
Segundo Fernando Cabodeira, também um estudioso de demografia da câmara de Vila Nova de Cerveira, aquele município deverá avançar com um estudo direcionado à emigração, a fim de fazer “um diagnóstico dos jovens que se encontram espalhados pela diáspora”. A análise poderá dar origem a medidas propiciadoras do seu regresso e fixação naquele município, que faz fronteira com Espanha. “As pessoas não são números, mas há números que dizem tudo sobre as pessoas”, afirmou.
Carla Segadães, vice-presidente da autarquia, defendeu que, face ao que os números revelam, é necessário foco “não só nas políticas de imigração, mas também nas da Educação, Cultura, Saúde, Ação Social e do próprio envelhecimento ativo”.
“Esta atratividade de migrantes vai-nos trazer várias famílias, mas estas famílias vão ter necessidades a que é preciso dar resposta, para se fixarem”, declarou, defendendo a implementação de medidas tendo como alvo, além dos “movimentos migratórios”, a retenção dos jovens do próprio concelho. “Temos de tomar medidas para que os nossos jovens se sintam à vontade e com condições de vida para se fixarem, e que não sejam eles a ter necessidade de sair e emigrar”, conclui.
