Os moradores que vivem em frente ao Cemitério n.º 2 de Rio Tinto, na zona da Triana, admitem que, caso se concretize a retirada dos mais de mil mortos do terreno, tal como o tribunal exige, fazem “uma revolução” com o objetivo de impedir a operação.
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Fátima Mendes, 66 anos, desabafa que nem quer “imaginar que uma coisa dessas possa acontecer”. Por entre os corredores das campas, a caminho do jazigo onde tem sepultada a irmã, para acender uma vela, a moradora do Bairro do Senhor dos Aflitos recorda que só ficou “em paz” quando conseguiu trazer o corpo de Balbina, que estava emigrada em França, para Portugal. “Não deixo que tirem o corpo da minha irmã seja lá para onde for”, soltou Fátima, admitindo que a população se revolte caso a decisão do tribunal vá para a frente.
Também Fátima Magalhães, 62 anos, considera que a decisão do tribunal “é injusta”, recordando que a situação foi criada “ainda no tempo do major Valentim Loureiro”. “Será um desgosto se os nossos familiares tiverem de ser retirados”, afirmou, considerando que se trata de “uma situação inimaginável”. Ainda assim, Fátima mostra-se “confiante” que a Autarquia encontre uma solução, que pode passar por uma “indemnização aos donos da parcela de terreno”.
“Nem quero pensar...”
“Se o que está em causa é que o terreno tem donos, então também têm de deitar abaixo os dois blocos onde vivemos”, sublinhou, em tom de ironia, Fátima Mendes.
Já Cecília Pereira, 66 anos, com loja de velas e flores junto ao cemitério, ficou perplexa ao ler a notícia no JN: “Tenho aqui o meu irmão, sogros e cunhado. Nem quero pensar que isto pode acontecer”.
Tal como noticiámos ontem, o Tribunal Judicial da Comarca do Porto, através do Juízo de Execução de Valongo, determinou que o Município de Gondomar tem um ano para retirar 1028 mortos do cemitério, a fim de devolver o terreno aos proprietários.
Um prazo que Nuno Fonseca, presidente da Junta de Rio Tinto, considera que “não é exequível”, uma vez que “a abertura de qualquer sepultura só é permitida decorridos três anos sobre a inumação”.
O autarca está “confiante” que a situação será resolvida, recordando que esta “é mais uma herança [do Executivo municipal anterior] que vai custar mais uns milhões a esta Câmara”.
Advogado apoia acordo
Tal como defende Ana Bela Cardoso, uma das proprietárias da parcela em causa, também José Manuel Monteiro, advogado dos outros quatro herdeiros, é da opinião que a resolução do caso deverá passar “por um acordo, mas desde que seja a Câmara de Gondomar a tomar essa iniciativa, uma vez que foi quem ocupou abusivamente um terreno que não lhe pertencia”. “Aquilo que os meus clientes querem não é ver os corpos a serem retirados, mas que a Autarquia reconheça o erro que praticou e que assuma as consequências”.
O presidente do Município, Marco Martins confirmou ao JN que, tal como já aconteceu no passado – e não foi aceite –, “a Câmara está disponível para fazer um acordo com todos os herdeiros e sobre a totalidade da área (cerca de 10 mil metros quadrados)”.