
Moradores reconhecem melhorias no rio Leça
Pedro Correia/Global Imagens
Moradores reconhecem melhorias, mas dizem que curso fluvial que passa em quatro concelhos "ainda cheira mal". Matosinhos tem trabalhos na margem junto à Lionesa.
Pouco resta das comunidades que há décadas se formaram junto ao rio Leça com sonhos de uma vida melhor. À medida que o rio se foi degradando, decidiram escolher outro sítio para morar. Hoje, apesar de a população reconhecer melhorias no que toca ao estado da água, admitem que, "de vez em quando, ainda cheira mal". E também há quem testemunhe a transformação do leito num verdadeiro arco-íris, resultado de descargas de tinturarias.
É o que acontece, por exemplo, junto à Rua de Moinho de Trigo, em Milheirós, na Maia, por baixo da A3, relata Joaquim Lopes, morador daquela zona há quase 50 anos.
Dos quatro municípios por onde passa o curso de água - Santo Tirso, Valongo Maia e Matosinhos -, apenas este último respondeu ao JN. Há trabalhos a decorrer nas margens do rio em Matosinhos para construir parques de lazer e passadiços. O mau cheiro, no entanto, denuncia a má qualidade da água.
Há oito anos, com a aprovação do Plano de Gestão da Bacia Hidrográfica do Cávado, Ave e Leça, que prevê medidas de redução da contaminação das águas, a Agência Portuguesa do Ambiente ficou responsável por fiscalizar a sua implementação, bem como por monitorizar a qualidade da água. Questionada pelo JN sobre o atual estado do rio Leça, aquela entidade também não respondeu.
É precisamente esta a falha apontada pelos moradores que resistem junto ao Leça. "Há muita gente a deitar lixo para o rio. Devia haver fiscais a multar", revolta-se Maria Ribeiro, de 80 anos, recordando as lavagens de roupa no rio, enquanto as filhas mergulhavam junto à sua casa na Rua de Venal, em Águas Santas, na Maia, há 50 anos. Com o passar do tempo, até as roupas acabaram por se estragar. "Começaram a ficar com manchas de óleo", recorda.
Para o marido, António Ferreira, de 77 anos, a degradação do Leça "é o que mais entristece". "Quando há cheias, basta meia hora para se ver a passar um frigorífico ou um televisor. Oxalá façam alguma coisa para resolver isto", desabafa.
Rio "às cores"
Joaquim Lopes, de 50 anos, sabe bem a partir de que ponto o rio, que nasce em Monte Córdova, Santo Tirso, está poluído. Isto porque, assegura, "de Alfena, Valongo, para cima, está limpo".
"Aqui [em Milheirós] aparece às cores. É azul, roxo... Antes havia peixes e até enguias. Com uma minhoca, pescávamos para comer. Agora não tem nada", lamenta o maiato, recordando que foi ali que, em criança, aprendeu a nadar.
Já o matosinhense Emanuel Amorim, de 68 anos, aguarda pelo passadiço de Santa Cruz do Bispo até Leixões. "Vai valorizar muito", garante.
