Com o denso nevoeiro marítimo a impedir que os aviões levantassem voo do Queimódromo, quem estava na Ribeira olhava para os barcos que circulavam entre a Alfândega e os pórticos cónicos com algum enfado.
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É verdade que vistos das margens não parecem nada de especial. Todavia, vistos de perto e uma vez no seu interior, é fácil de perceber que são muito mais do que balões.
As dimensões de cada cone são consideráveis: 20 metros de altura, cinco metros de diâmetro na base e 75centímetros no topo, com 70 metros cúbicos de ar no interior. Como comparação, diga-se que é uma área semelhante a 1500 balões de festa que enche em apenas 14 segundos.
A concepção dos pórticos teve três princípios norteadores: serem frágeis para rebentar quando atingidos por um avião, sólidos para aguentar condições atmosféricas adversas e fáceis de substituir. Martin Jehart, que vem desenvolvendo os pórticos da Air Race desde 2002, explica que optou por lonas de três densidades diferentes, que enfraquecem à medida que o cone estreita. Cada pórtico está dividido, por fechos, em seis secções distintas para facilitar a sua substituição.
Durante as provas, os três barcos e 16 homens que compõem os Air Gators, estão sempre em alerta junto às margens, preparados para intervir. Hoje, a equipa de Martin consegue substituir um pórtico em menos de dois minutos. Há poucos anos, eram precisos 20 minutos.
Através de 12 fixações (cada uma suporta uma força de 1200 quilos), os cones assentam numa plataforma que veio especialmente da Holanda e suportam ventos até 60 km/h. O nível de pressão do ar no interior do cone é controlado electronicamente e o pórtico tem de estar sempre em tensão máxima para que, em caso de embate, expluda e cause o mínimo impacto no avião. Mas há muitos outros aspectos nos pórticos: têm microfones que captam o som dos aviões a passar e transmitem-no para a emissão televisiva; um altifalante que reproduz sons para afastar as aves, um laser que regista o tempo de passagem de cada avião e um GPS que alerta caso a plataforma se mexa muito.
Infelizmente, ainda não foi ontem que os aviões passaram por entre os 12 metros que separam os cones de cada porta. Logo pela manhã temeu-se o pior dos cenários. O nevoeiro junto ao mar era intenso e não dava sinais de querer levantar. Os primeiros treinos, marcados para as 10 horas, foram cancelados. Esperava-se que, com o passar do dia, a bruma se dissipasse. Isso verificou-se no Douro, mas junto ao Queimódromo o nevoeiro pairou e os aviões não chegaram a sair da pista. Por serem voos feitos a baixa altitude e no meio de uma área densamente urbanizada as condições de visibilidade têm de estar perto da perfeição para que os aviões possam descolar. O que, ontem, manifestamente, não era o caso. Hoje, se as condições se mantiverem os aviões poderão voltar a permanecer em terra.