Cabido Portucalense paga a intervenção que é dirigida pela Direção Regional de Cultura do Norte. Em maio o restauro da talha e da pintura mural da autoria de Nasoni estará concluído.
Corpo do artigo
Depois da igreja de Santa Clara ter sido devolvida à cidade de cara lavada e com um redobrado brilho da sua talha dourada, é agora a vez da capela-mor da Sé Catedral do Porto estar em restauro. Os "graves" problemas estruturais de que padecia esta zona do templo foram resolvidos, estando agora a decorrer o restauro de todos os aspetos artísticos, como a talha, as imagens, os quatro santos que dominam este altar-mor e a pintura em madeira que quase não era percetível por estar enegrecida. Em maio, haverá uma nova Sé para descobrir.
Foram séculos de intervenções sobre intervenções, pintura sobre pintura, em restauros nem sempre com bons resultados. Os tempos em que a iluminação do templo era feita com velas também deixou marcas. Com algodão, cotonetes e dissolventes, dezenas de especialistas em restauro vão limpando a talha que já não era dourada mas acinzentada. "Aqui trabalharam os melhores artistas nacionais e estrangeiros e este retábulo foi uma inovação no Porto e no Norte por ser o primeiro a apresentar perspetiva", explica Adriana Amaral, da direção de Serviços dos Bens Cultura do Norte. Em estilo joanino, este modelo, datado de 1727/29, iria criar escola.
Por essa altura, Nicolau Nasoni orientava toda a decoração barroca da capela-mor, intervindo ao nível do recheio entre 1724 e 1739. São dele as pinturas que agora ganham nova cor e perspetiva depois de retiradas as camadas de repintura, nomeadamente a tinta a óleo a imitar granito.
Enigma decifrado
Os vãos das janelas são exemplo disso, num trabalho minucioso que está a ser feito pela equipa de especialistas. Para além da pintura mural de Nasoni, os caixotões têm agora outra tonalidade e, depois de consultado Sérgio Veludo, um especialista em História Militar, decifrou-se o enigma de um deles apresentar uma zona remendada. Terá sido uma munição lançada da margem esquerda do rio durante as lutas liberais que provocou o rombo na cobertura.
Contudo, é no cavalete que a cor ganha outra expressão. A pintura sobre madeira, retratando a Assunção da Virgem, da autoria de Miguel Francisco da Silva e Luís Costa, estava quase escondida. "Foi feita uma limpeza química e depois aplicado um verniz como o original. A fase seguinte foi adicionar a nova intervenção com massa de preenchimento e retoques com pigmento", salienta a conservadora Bárbara Campos Maia.
O responsável geral da obra é João Aguiar, que confessa que a intervenção "acabou por ser mais complicada do que se julgava inicialmente". As quatro esculturas do veneziano Claude Laprade voltarão ao altar. A intervenção interior é financiada pelo Cabido Portucalense mediante um protocolo com a Direção Regional da Cultura do Norte que dirige a obra. Dentro de meses a igreja-mãe da diocese do Porto vai reaparecer aos olhos de todos "com maior esplendor e beleza".