Porto autoriza arranque da Linha Rubi para não ser culpado quando obra não estiver pronta
Já arrancaram as obras da Linha Rubi do metro do Porto, entre a Casa da Música e Santo Ovídio, em Gaia. O presidente do Município portuense diz ter autorizado o arranque dos trabalhos para que a autarquia não seja culpada por algo "que vai acontecer de qualquer maneira": a obra não estará pronta em 2026, diz.
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O tema foi levantado, durante a reunião de Executivo da Câmara do Porto desta segunda-feira, pela vereadora social-democrata a propósito do elevado número de obras que decorrem atualmente na cidade, provocando o "gradual descontentamento da população". O objetivo da intervenção de Mariana Ferreira Macedo foi o de esclarecer de quem é a responsabilidade da "sinalética, dos cortes de ruas, do próprio entaipamento [de obras] e também da decisão de onde são colocadas as paragens" para o metrobus, entre a Avenida da Boavista e a Praça do Império.
A intervenção da social-democrata terá deixado o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, algo surpreendido, já que, afirmou, "pelos vistos, este Governo está muito contente com o funcionamento da administração da Metro do Porto". "Acabou de apresentar um louvor. Da parte do PSD, não consigo compreender essa questão. Se apresentou louvor, é porque está contente com a forma como as coisas estão a decorrer", admitiu, encolhendo os ombros.
"Se isto depois tem um contexto já pré-eleitoral, perante as declarações que a senhora vereadora está a fazer, também compreendo", disse o autarca.
"Álvaro Siza construiu dolmens e toda a gente achou bem"
Falando sobre as obras na cidade, o autarca explicou: "As obras da Metro não precisam de licenciamento [municipal] porque é uma empresa pública. A mesma coisa ocorre com a Infraestruturas de Portugal. As obras em S. Bento [por exemplo], não têm de ser licenciadas junto dos serviços de Urbanismo. As escolhas dos projetistas não foram da Câmara do Porto, tal como não foram as paragens do metrobus. Devo dizer que as da Avenida da Boavista parecem-me pouco eficientes relativamente ao clima que temos, com chuva e vento. Se quer a minha opinião, na Avenida do Marechal Gomes da Costa deviam ser coisas muito mais leves e de acordo com a forma como se constroem hoje paragens. Não é preciso, propriamente, construir dolmens. Mas como foi o arquiteto Álvaro Siza a construir os dolmens, toda a gente achou bem. Mas a escolha não foi nossa. A Câmara do Porto não foi ouvida nesta matéria", contextualizou Rui Moreira.
Certo é que, sublinhou o autarca, o problema entre o Município do Porto e a Metro "é reconhecido" pela comissão de acompanhamento criada pela Assembleia Municipal para acompanhar as empreitadas da empresa na cidade. "Todos os partidos têm vindo a contestar, a levantar questões e a dizer que não têm resposta", observou.
"Continuo muito preocupado. Tivemos de autorizar agora o início das obras da Linha Rubi [entre a Casa da Música, no Porto, e Santo Ovídio, em Gaia]. A última coisa que o Município do Porto pode agora é ser responsabilizado por aquilo que vai acontecer de qualquer maneira, que é a [construção da] Linha Rubi não vai cumprir os prazos impostos pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). E se nós agora não autorizássemos a frente de obra, já sei o que iam dizer: 'Olha, lá foi o presidente da Câmara que não quis a Linha Rubi'. [Nessa altura], vou estar a olhar e a ver como é que depois se vai pagar essa obra", perspetiva Rui Moreira. Na cerimónia de assinatura do contrato para a construção do traçado, a 9 de janeiro deste ano, o então primeiro-ministro António Costa, enfatizou a necessidade de a obra estar pronta a 31 de dezembro de 2026.
Rui Moreira insistiu, por fim, que o Governo de Luís Montenegro, "que até agora ainda não falou" com a Câmara sobre o tema, "entende que [a administração da Metro] merece um louvor". "A partir daqui, estou bem entendido sobre quais são as posições", concluiu.