Câmara de Gaia diz que medida é experimental. Comerciantes criticam alteração. Especialistas apoiam decisão.
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Reabriu como uma faixa bus e sabe-se agora que será uma experiência de três meses. Foi o vice-presidente da Câmara de Gaia, Patrocínio Azevedo, quem o anunciou. No tabuleiro inferior da ponte de Luís I, entre Porto e Gaia, só podem passar autocarros, táxis e velocípedes. As motas também estão excluídas, ao contrário do que acontece nos restantes corredores bus da cidade.
No Porto, existe uma barreira policial a impedir a passagem de motociclos, carros e motoristas das plataformas digitais, mas em Gaia não. Por isso, há quem atravesse a ponte como era habitual. Só que, chegados ao Porto, a Polícia Municipal obriga os condutores a inverter a marcha e regressar à outra margem.
A alteração não foi anunciada por nenhuma das autarquias e está a gerar controvérsia entre a população. Para os especialistas em mobilidade, todas as decisões que retirem automóveis das estradas "são positivas".
Moradores e comerciantes dizem que "vão sofrer" com a medida, já que uma viagem que podia ser feita "em dois minutos", perante o trânsito intenso, pode demorar "uma hora". E alterações "importantes" como esta, nota o engenheiro Guilherme Ferreira, "nunca se fazem sem ouvir os interessados". Até porque "comerciantes e residentes também têm de ter acesso". O especialista em mobilidade, Álvaro Costa, concorda em pleno com a medida.
"A ponte não abriu"
A restauração e o comércio local da Ribeira do Porto e do Cais de Gaia pedem janelas horárias onde seja permitido o atravessamento a fornecedores. João Gonçalves, 68 anos, do restaurante portuense "Peza Arroz", diz compreender "que tivessem de fechar a ponte". "Mas deviam ter estipulado um horário para os comerciantes. Muitos moram em Gaia e não demoram menos de uma hora a chegar aqui", critica.
Para Inês Correia, 52 anos, o cenário é fácil de descrever: "A ponte não abriu. Esteve um ano e meio fechada e vai continuar". É funcionária de um restaurante na Ribeira e mora em Gaia. A alteração ao trânsito obriga-a a perder "mais meia hora por dia" nas viagens entre casa e o trabalho.
A mudança apanhou todos desprevenidos. Tanto que João Gonçalves esperou pela reabertura, no passado dia 14, para levar "a mercadoria toda" para o restaurante. "Cheguei aqui, esbarrei [na ponte] e tive de dar a volta", critica.
Para os motoristas das plataformas, a situação complica-se. Paulo Marques, 45 anos, pede para "imaginar a volta que dá para atravessar uns metros". "Um cliente já me disse que para a próxima vem a pé. E vamos perder as viagens porque não dá", lamenta o profissional.
Por sua vez, o vereador do Urbanismo da Câmara do Porto, Pedro Baganha, nota que, ao tratar-se de um "corredor de transportes coletivos", é "o código da estrada que impõe" a proibição de circulação. Já Gaia diz estar "em estudo a hipótese de incluir" estes veículos e os turísticos tuk-tuk.
Paulo Veloso, do restaurante "Cais do Bacalhau", em Gaia, admite: "Ainda não fomos avisados de nada. Acredito que o poder local fará esse aviso".
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Em reunião de Executivo, o vice-presidente da Câmara de Gaia, Patrocínio Azevedo, afirmou que o tabuleiro inferior da ponte de Luís I "não é uma travessia fundamental para os interesses de Gaia", considerando até ser "a melhor solução para a cidade".
A empreitada de requalificação do tabuleiro inferior da ponte de Luís I, entre o Porto e Gaia, duplicou a capacidade de carga rodoviária da infraestrutura: de 30 toneladas, subiu para 60.
Em junho de 2016, a Câmara do Porto anunciou o alargamento de todas as faixas bus da cidade à circulação de motas. Mas a faixa criada na ponte de Luís I não permite a passagem.