No mundo dos pombos-correio, o distrito do Porto é o que voa mais alto. Em todo o país, há cerca de dois milhões de "atletas" e 11 mil columbófilos inscritos na federação portuguesa.
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A Associação Columbófila do Distrito do Porto (ACDP) é a maior a nível nacional, com 67 clubes, divididos por seis zonas. "São 1500 columbófilos filiados, 1300 a competir", diz Cândido Regal, presidente da associação.
Em comum têm um gosto pela natureza e um amor inabalável pelas aves e pela competição. "A columbofilia pode ser o escape para muita gente", solta José Carlos Santos, 41 anos, diretor desportivo da ACDP e professor de Informática, confessando que esta atividade o "liberta e acalma".
O columbófilo defende que este desporto podia ganhar um novo fôlego "se mais gente tivesse contacto com os pombos". "Quem sabe até ser uma disciplina para os miúdos conhecerem algo diferente", sublinhou.
Mas aqueles que persistem na columbofilia reclamam que os "apoios são inexistentes". "Tem de haver uma mudança de mentalidades dos políticos portugueses. Não se entende como é que uma vitamina para os pombos-correio é taxada a 23%, enquanto para um cão é a 6%", aponta Ana Risca, columbófila há 26 anos.
"Desportistas de pavilhão"
Já para não falar nos "entraves". "Para ter um pombal na cidade é cada vez mais complicado", referiu Ana, acrescentando: "Anda-se a repovoar o país com aves de rapina que depois, à falta de alimento, atacam os pombos-correio".
Com a "época" entre fevereiro e julho, Cândido Regal contou que a competição "acabou condicionada pela pandemia", porque, segundo a lei, são comparados a "desportistas de pavilhão". "Não faz sentido! Os atletas de alta competição são os pombos, não somos nós", explicou. "A única diferença entre um treino e uma competição é tirar uma folha do computador", resumiu Ana, lembrando que quando os pombos vão para as provas, os criadores ficam em casa à sua espera.
Ana e Miguel Risca são columbófilos desde 1996
Se não fosse por ela, já tinha desistido
Ana e Miguel Risca, 45 e 52 anos, são columbófilos desde 1996. E embora partilhem o pombal lá de casa, em Valadares, Vila Nova de Gaia, cada um gosta de seguir o seu método. Ela gosta de "viajar à viuvez [só com fêmeas]. Ele mistura machos e fêmeas. Práticas à parte, o casal tem somado vários prémios ao longo dos anos, como o título de "campeão distrital de fundo em 2010", um "ano dourado" por excelência.
"Se não fosse por ela, já tinha desistido", desabafa Miguel, que começou na columbofilia ainda miúdo, influenciado por um vizinho.
Depois de um interregno, quando recomeçou no desporto, Miguel já contou com Ana na equipa. Mas ela - ao contrário de outras mulheres, que acabam na columbofilia apenas porque vão ajudar os maridos -, soube assumir-se com um estilo próprio num mundo dominado por homens.
"Em todo o país, haverá umas 50 mulheres na columbofilia", diz Cândido Regal, presidente da Associação de Columbofilia do Distrito do Porto. Ana corrige e diz que serão "bem menos".
Ana e Miguel reconhecem que o grande trunfo da equipa que formam é "mimarem" os pombos. Nem que para isso seja preciso levantarem-se com o nascer do sol, por volta das 5.45 horas, para os pombos-correio terem o primeiro treino do dia.
Conquistas e perdas
Miguel confessa, em tom de brincadeira, que no pombal ele e Ana "são um Porto-Benfica". Mas, sem darem conta, os dois falam das conquistas e das perdas como algo comum. A partilha entre ambos é evidente.
De uma "vida inteira" ligada aos pombos - o casal tem mesmo uma loja de venda de rações -, Ana recorda a história "de duas crianças de Aveiro" que lhe ligaram a dar conta que tinham encontrado uma pomba sua numa berma de estrada. "Foram para a Internet e, através da anilha que a pomba tinha, chegaram ao meu email, mas como não vi logo a mensagem, entretanto descobriram o meu telemóvel", contou.
Miguel, emocionado, acrescenta com um sorriso: "E a bicha, reconhecida pelos donos a terem resgatado, acabou por dar-nos duas filhas campeãs, que saíram muito melhores do que ela".