Visitantes com capacidade financeira acima da média procuram cada vez mais a cidade. Vêm de países como os EUA, o Canadá ou a Austrália e gastam milhares de euros em poucos dias.
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Restaurantes de chefs de renome encerrados para servirem apenas clientes de exceção, almoços e jantares dentro de palácios ou museus, automóveis de gama alta com motorista particular à disposição 24 horas por dia, cruzeiros pelo Douro com percurso à medida e tripulação especial, roteiros personalizados com guias particulares, lojas encerradas para compras a sós, hotéis parcialmente encerrados para um único hóspede e respetivos convidados, iates à espera para passeios em alto mar, caves de Vinho do Porto interditas temporariamente a clientes para servirem somente quem as quer visitar sem limites de tempo, sommeliers para provas de vinhos isoladas de outros olhares, programas feitos à medida com valores que superam facilmente os 10 ou 15 mil euros por pessoa e que podem subir aos aos 50 mil euros sem dificuldades de maior.
Estes são alguns exemplos de um fenómeno que tem marcado o fluxo turístico recente do Porto e que reforçou o crescimento da procura por parte de visitantes do segmento mais alto do mercado, que procuram classe, sigilo, privacidade e qualidade acima da média no serviço prestado. Isso mesmo foi confirmado pelo JN junto de empresas que operam no terreno e de especialistas que conhecem o meio.
“Os clientes premium que procuram o Porto são provenientes, sobretudo, dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália, de França e de Inglaterra”, explica Sílvia Ferreira, CEO e fundadora do grupo Wine Tourism in Portugal, Luxury Tours Portugal e ExperienceA. “São pessoas que pretendem tudo privado e feito à medida, elevando a fasquia em termos de experiências e de exclusividade”, aponta.
Quem solicita este género de programas pretende uma viagem “à medida”, onde “há sempre algo mais por acontecer” e com tudo preparado de forma individual e ao gosto pessoal aprimorado com “toques especiais” que vão sempre “diferenciar o produto”. Uma forma de dar a conhecer um Porto diferente a clientes também eles diferentes tendo em conta a capacidade financeira. “Temos consultores que ouvem a expetativa dos viajantes e lhes desenham toda a viagem”, refere Sílvia Ferreira.
Marcas distintivas fortes
Esta é uma forma de turismo que tem vindo a ganhar corpo e que parece ter conquistado um papel muito próprio com asas para crescer. “Dadas as suas características, a capacidade de o Porto se posicionar e consolidar a sua posição no campo do mercado turístico de luxo é imensa”, acredita Carlos Melo Brito, professor de marketing na Porto Business School. “Tem identidade própria bem vincada e possui marcas distintivas fortes, como o facto de ser património da UNESCO, o vinho do Porto, grandes nomes ligados à arquitetura internacional e até a proximidade a outras cidades históricas, como Guimarães. E conta com o intangível, a autenticidade que continua bem presente”, explica.
Para Carlos Melo Brito, são essas “características endógenas de natureza e patrimonial e cultural” que conferem ao Porto e à própria região envolvente um foco de atração privilegiado capaz de atrair públicos com características únicas em termos de poder aquisitivo. “Mais do que um turismo de luxo, chamar-lhe-ia um serviço diferenciado”, aponta o também presidente da Direção Regional do Norte da Ordem dos Economistas. O desafio a curto prazo, diz, “é melhor a interação” com este tipo de clientes, de forma a criar e cimentar “um serviço confiável em termos de atendimento”.
Espaços em falta
Outro dos problemas com que o Porto se debate é, tal como o JN noticiou em novembro passado, a falta de imóveis disponíveis para acolherem lojas de produtos direcionados para o segmento de luxo do turismo, desde roupa a joias, passando por todo tipo de produtos acessíveis apenas a classes com poder de compra elevado.
Conforme revelaram então várias consultoras que operam dentro do circuito, a escassez de alternativas “provocou o aumento do valor das rendas e criou dificuldades para grandes marcas se instalarem na cidade”.
A grande procura de clientes milionários, acrescentaram as mesmas fontes conhecedoras do terreno, é um fenómeno que ocorre no Porto desde há cerca de cinco anos e que não foi acompanhada pelo devido reforço da oferta disponível. As áreas mais procuradas para compras são a Avenida dos Aliados, as ruas de Santa Catarina, Mouzinho da Silveira e das Flores, além da zona dos Clérigos.
Pormenores
Melhor ano de sempre
O ano de 2024 foi considerado o “melhor de sempre” pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal. Só até novembro foram registados sete milhões de hóspedes na região, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
7,1%
Foi este o crescimento do número de turistas no Porto verificado em 2024, de acordo com dados oficiais. As dormidas subiram acima de 13 milhões, uma subida de 6,6% em comparação com o ano anterior.
Faturação em alta
As empresas que operam com o mercado de luxo contam multiplicar as receitas durante o presente ano de 2025. Segundo apurou o JN, há quem esteja a contar duplicar a faturação, nomeadamente devido ao aumento de clientes deste setor particular de atividade turística.