Profissionais de áreas distintas mudam de carreira através do curso SWitCH, que abre as portas da programação nas empresas.
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Mais de 200 pessoas já mudaram de vida através do SWitCH. A pós-graduação desenvolvida pelo Porto Tech Hub, em parceria com o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), compromete-se a requalificar profissionais de qualquer área de formação para o mundo da programação. Faltam recursos ao mundo da tecnologia e há cada vez mais gente, das mais diversas profissões predispostas a assumir o desafio de fazer uma mudança radical de rumo.
Segundo os testemunhos ouvidos pelo JN, a palavra que dá nome ao projeto "não podia fazer mais sentido", uma vez que o programa "muda" ("switch", em inglês) a vida profissional e pessoal dos alunos.
A iniciativa nasceu em 2015 e vai a caminho da 7.ª edição e este ano vai alargar-se com o SWitCH QA. O sucesso tem sido crescente e, na edição de 2020/2021, 92% dos alunos continuaram a trabalhar na empresa onde estagiaram.
Tânia Mota
Não mudava esta decisão por nada
Após terminar a licenciatura de fisioterapia em 2018, foi com surpresa que Tânia Mota percebeu as dificuldades e lacunas que existem na área da saúde em Portugal. Esteve quatro anos na profissão, mas o descontentamento foi sempre crescendo. A possível mudança profissional ocupava-lhe cada vez mais o pensamento, até que começou a procurar outras opções.
Tânia descobriu o SWitCH em julho do ano passado através de um amigo. Decidiu concorrer uns dias antes de fecharem as inscrições.
Para conseguir frequentar o curso, a maioria abdica do emprego. "Tive de despedir-me de dois empregos, caso contrário não conseguia estar aqui", partilhou Tânia.
"A parte da desvinculação laboral é a que mais custa", sublinhou. Contudo, Tânia garante que um "profissional de saúde nunca abandona a área por completo", e esse é o seu caso, uma vez que continua a prestar cuidados a alguns utentes.
Atualmente está em estágio na Critical Manufacturing como programadora e sustenta que, apesar da dificuldade em recomeçar, "o que custa é o início". "É preciso coragem para abdicar de tudo, mas vale a pena. Olhando para trás agora, eu não mudava esta decisão por nada", sentenciou. O descontentamento laboral que Tânia sentiu é a razão que leva a maioria a integrar a pós-graduação. "É trocar por uma melhoria na qualidade de vida", observou.
Elisabete do Vale
É preciso foco e compromisso
Inspirada pelas duas irmãs que são professoras, sempre fez parte dos planos de Elisabete do Vale enveredar pela área da educação. Mas durante a licenciatura em Geografia, com minor em História, percebeu que "seguir o ensino não era o futuro que queria viver". Fez uma pós-graduação em Sistemas de Informação Geográfica e Ordenamento Território, mas "as propostas de trabalho eram raras e ofereciam poucas condições".
"Em 2019 fiz mesmo um "switch" à minha vida", declarou Elisabete. Quando se inscreveu na formação, "não sabia nada de programação de software". Passados quatro anos, está empregada na empresa onde estagiou, a Critical Manufacturing, no TecMaia.
"Nunca pensei conseguir. Só tive coisas boas desde então e aconselho a todos os que queiram mudar e que estejam descontentes na sua área, que era o meu caso", destacou.
De acordo com a programadora, o método de ensino do SWitCH é "desafiante e muito intenso". "Aprendemos em nove meses o que normalmente aprenderíamos em dois anos. Estamos constantemente a apanhar e a perder o comboio. É preciso um foco e compromisso muito grandes", explicou.
A viver em Póvoa de Lanhoso, Braga, o facto de poder trabalhar a partir de casa foi outro dos fatores positivos. "As propostas de trabalho que antes recebia obrigavam-me a mudar de cidade. Na Critical só temos de vir um dia por semana presencialmente. Deixei de preocupar-me com a localização", referiu.
Lino Ribeiro e Joana Pinheiro
Um passo atrás, dois em frente
Foram precisos 13 anos para que Joana Pinheiro tivesse o "clique" para desistir da vida de engenheira. Antes de entrar no SWitCH, "vivia uma pressão diária no trabalho e grande instabilidade". Começou a procurar mais sobre a área da programação e em 2021 entrou na pós-graduação.
Foi no curso que Joana conheceu Lino Ribeiro, que tinha abandonado a área da Economia e Gestão Ambiental. "Jovem e estagnado não é um bom presságio para o futuro, e foi por isso que mudei", explicou Lino.
Ambos estão a estagiar há cinco meses na empresa de engenharia de software BLIP, no Porto.
De acordo com Lino, "muitos candidatos deixam-se deslumbrar pelos espaços de trabalho e pelo facto das startups e a programação estarem em voga". Mas Joana aconselha: "É importante que os candidatos se informem antes sobre isto da programação, para que depois não se arrependam e seja tarde demais".
Nos primeiros nove meses da formação, em que o ensino é teórico, "a sensação é a mesma de estar constantemente a dar um passo atrás, para dar dois à frente", recordou Lino.
A juntar-se à dificuldade do curso, Joana salienta: "Como muitos não vestem a pele de ser aluno há muitos anos, há a necessidade de estar predisposto a aprender".
O SWitCH garante um estágio remunerado a todos os alunos, e no final ainda há a grande possibilidade de ganhar um contrato de trabalho, uma vez que a taxa de empregabilidade é superior a 90% desde a primeira edição. Mas os mais recentes programadores preferem não pensar nisso.
Segundo Lino, "a pós-graduação e o estágio já são um abrir de portas para uma área que está a crescer cada vez mais e oferece credibilidade enquanto profissional".