Das lojas da Baixa afetadas só 17 têm valor aproximado das perdas e apenas nove enviaram informação completa à Câmara. Nas Fontainhas, uma família foi realojada.
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Dos 172 estabelecimentos situados nas zonas afetadas pela enxurrada que há um mês levou o caos à Baixa do Porto - sobretudo Rua de Mouzinho da Silveira, Rua das Flores e Rua de Trindade Coelho -, 40 ainda estão a avaliar os danos sofridos, 75 confirmaram não ter tido qualquer estrago e 17 já apuraram o valor aproximado dos prejuízos, embora apenas nove tenham remetido a informação completa à Câmara.
Os números divulgados ao JN pela autarquia dão ainda conta que oito comerciantes referiram apenas quebra na faturação no período em que as lojas estiveram fechadas e que de 32 não têm qualquer informação. Já os moradores das Fontainhas que sofreram estragos queixam-se de continuar "a viver sem condições, numa zona de risco".
Fernanda Silva, 62 anos, vive no Bairro dos Moinhos, situado na Rua de Gomes Freire, há mais de 25 anos, e o "susto" que apanhou há um mês ainda não lhe saiu da cabeça. "Foi um aflição muito grande", lembrou a moradora, contando que, além de ter ficado com "a máquina de lavar estragada", perdeu "toda a mercearia". Fernanda queixa-se que sobrevive com a reforma do marido, doente oncológico, de 420 euros, pagando 170 de renda. Mas, desde a enxurrada, "nem o senhorio apareceu, nem a Câmara ajudou com nada".
teme "esquecimento"
A filha, Vânia Silva, 35 anos, que chegou a ter meio metro de água em casa, tendo os filhos fugido para a habitação da vizinha pela janela, diz não compreender "o silêncio" das várias entidades e teme que a situação em que vivem "sem condições numa zona de risco" fique no "esquecimento". Daquele enfiamento de casinhas, situadas na escarpa, apenas a Rui Monteiro, 55 anos, à mulher e ao filho foi atribuído um T2 no Bairro do Viso. "A Proteção Civil atestou que as três últimas habitações estavam em risco e só ainda não fizemos a mudança porque estamos à espera de uns móveis", contou ao JN, acrescentando: "Há males que vêm por bem".
As outras duas casas, que também ameaçam ruir, permanecem vazias desde o dia da enxurrada, uma vez que as duas idosas que lá viviam foram levadas para casas de familiares. Em relação ao Bairro dos Moinhos, fonte do município confirmou que se "encontra ainda em processo de negociação a aquisição por parte da Câmara".
Madalena Oliveira, com cabeleireiro na Rua de Trindade Coelho, é das poucas comerciantes que já enviaram à Câmara toda a documentação - incluindo apólice de seguro e identificação dos danos sofridos - para agilizar o processo de articulação com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. A cabeleireira contabiliza cerca de "três mil euros de prejuízos da água que jorrou de dois tubos" que tem dentro do quadro elétrico. Situação que Madalena confirma já ter acontecido mais vezes. "Não tenho dúvidas de que as obras do metro andam a abalar isto tudo". Da Metro diz ter recebido um email a afirmar que a enxurrada "foi fruto da intempérie".