Direção e comando querem valorização da carreira para atrair jovens e evitar fim de algumas corporações. E pedem ao Estado que pague a horas.
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Ter uma carreira reconhecida, com tabela remuneratória uniformizada e idade de reforma ajustada, e um comando único com assento na mesa das decisões. Estes são alguns dos problemas que os responsáveis dos Bombeiros Voluntários de Proença-a-Nova (AHBVPN) destacam este sábado, no dia em que a associação humanitária faz 75 anos.
Os desafios passam também por uma transformação digital que agilize procedimentos administrativos, que são morosos, burocráticos e arcaicos, uma vez que estas casas, apesar de assentes no voluntariado, têm um modelo de gestão empresarial, gerindo, no caso de Proença-a-Nova, um orçamento anual de 1,2 milhões de euros. Precisam, por isso, que o Estado pague a tempo, como está obrigado, e dentro dos valores de mercado, os serviços que prestam em sua substituição, como dizem Ricardo Araújo, presidente da direção da AHBVPN, e o comandante da corporação, Tiago Marques.
“A associação emprega hoje 37 profissionais, tem 90 voluntários, assumindo uma vertente económica e financeira que não existia há 75 anos”, afirma Ricardo Araújo. Mas a falta de motivação e de uma carreira com perspetivas de futuro, tem afastado os mais jovens e, “se nada for feito por parte do Estado para criar alguns incentivos, dentro de 10 ou 20 anos, algumas destas casas podem mesmo fechar por falta de pessoal”.
Em termos operacionais, “o voluntariado é uma componente importante, mas apenas 2% da sua missão se refere aos incêndios florestais”, lembra o presidente. “Cerca de 80% da sua atividade centra-se no transporte de doentes não urgentes e na emergência pré hospitalar de socorro, o que implica ter pessoas disponíveis ao minuto e não apenas ao toque da sirene”, acrescenta para sublinhar a importância dos profissionais. Palavras corroboradas pelo comandante da corporação.
Ricardo Araújo reconhece a importância do apoio dos beneméritos, provenientes do tecido empresarial, “mesmo que os donativos não sejam suficientes para comprar viaturas ou fazer grandes obras”.
Obras no quartel
O quartel, inaugurado há 50 anos, vai sofrer uma remodelação no valor de 350 mil euros, mas para responder aos desafios apenas da próxima década.
A falta de gente também afeta os órgãos sociais, pois os dirigentes são voluntários e não remunerados, mas respondem criminalmente com os seus bens em caso de incumprimento de encargos e impostos.
No caso do Município de Proença-a-Nova, o contrato programa “está adequado às necessidades que o executivo quer para o concelho”, afirma o comandante.
Outra reivindicação transversal aos bombeiros é fazer farte da decisão. “A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) mudou geograficamente, mas os bombeiros continuam a ser locais”, recorda Tiago, lembrando a importância da criação de um comando único, que apenas implica “reorganização de meios e não acréscimo de despesa”. A ANEPC “não representa os bombeiros, é a entidade chapéu que coordena todos os agentes de proteção e os bombeiros estão fora da decisão”. No fundo, compara o comandante, “é como se a coluna vertebral do sistema ficasse fora do corpo”.v