Mais de 350 abóboras vão iluminar a escura e tenebrosa noite das Bruxas (esta segunda-feira, 31 de outubro) em Vilar de Perdizes.
Corpo do artigo
Quando a noite cair, esta segunda-feira, em Vilar de Perdizes, bruxas e bruxos, mochos e corujas sairão dos seus esconderijos para dançar e voar à volta da fogueira. Pouco dados a muita luz, terão antes fundido todas as lâmpadas da iluminação pública. Por marcadores de caminho, terão apenas 350 abóboras, com velas dentro a destacar formas assustadoras, e algumas tochas com chamas inquietas. Haverá Halloween na terra mais mística do concelho de Montalegre.
Antes da consagração da bruxaria, aquelas figuras feias, de nariz comprido e verrugas, lançaram feitiços contra umas 20 pessoas da aldeia. Hipnotizadas, têm vindo a ser escravizadas nos preparos da festa, para que nada falte. Sim, porque desde que a moda americana abafou a tradição antiga da terra, até querem que vá gente de fora ver. Ainda por cima, na terça-feira é feriado.
Umbelina Moura é das que apanharam o feitiço mais forte. Ordenaram-lhe que se encarregasse de fazer uma grande festa. À vice-presidente da Associação de Defesa do Património de Vilar de Perdizes não coube alternativa senão reunir as outras enfeitiçadas e começar a trabalhar. "Desde sexta-feira que estamos a decorar cabaços (abóboras) e só devemos acabar na segunda-feira", disse ao JN, escondida da vigilância das bruxas e bruxos, mochos e corujas, os primeiros que em tudo mandam, os segundos que tudo espiam.
Talvez temendo-os, Deolinda Silva não se queixa do sacrifício. Concede apenas que "os fins justificam os meios". Ainda ninguém se cortou. "As mulheres do Barroso estão habituadas à faca, à foice e à gadanha", acrescenta, enquanto Natália Costa confessa que "quando o trabalho se faz com gosto, nada custa". Natividade Costa já tem pensos nas mãos. "Alguns cabaços são muito rijos, é preciso fazer muita força na faca". "São as amarelas que dão mais trabalho", queixa-se Ana Fernandes. Oxalá os mochos e as corujas não as tenham ouvido.
Seja por medo ou para agradar à bruxaria, outras famílias ficaram de pôr também um cabaço decorado à porta. Quem se desloca montado numa vassoura quer lá saber que o ano tenha dado pouca abóbora e que por ali se precise delas para alimentar o gado. O que "por norma é oferecido à associação, este ano, teve de ser comprado". Nem tudo, mas uma boa parte. "Um euro cada. Preço especial para a tradição", revela Umbelina. Conhecedor do caminho para Montalegre, por mor da Sexta 13, o bruxedo também chegou à Câmara Municipal, de onde chegou apoio financeiro e logístico.
Mais atividades durante toda a noite
Umbelina Moura adianta que este ano o Halloween terá mais animação de rua, cenas teatralizadas pela companhia Filandorra, concurso do melhor cabaço, a queimada do padre Fontes e a performance do Bruxo Queiman e Andrea Pousa. Durante o cortejo, será servido pão de centeio e vinho, conforme manda a tradição, e no final da queimada ainda haverá caldo verde feito na fogueira das bruxas.
A animação começa às 18 horas e termina depois da meia-noite. Às 23 horas, sai o cortejo embruxado.