O presidente da Junta de Freguesia de Gandra, em Paredes, renunciou ao mandato por perda "de confiança política" do autarca de Paredes. Sai "desolado", diz que se recusou "a vender a terra" e que não se "verga". Em causa estão divergências sobre uma disputa de terreno em tribunal entre as freguesias de Gandra e Recarei.
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Há motivos pessoais, mas também políticos, na renúncia de José Mota ao mandato de presidente da Junta de Freguesia de Gandra, em Paredes. As justificações foram dadas, ontem à noite, em Assembleia de Freguesia que efetivou a saída e fez de Sílvia Sá Pinto, até agora tesoureira, a nova presidente de junta.
O independente, eleito nas listas do Partido Socialista nas autárquicas de 2021, sai "desolado". "Era minha vontade trabalhar pelo desenvolvimento e aumento da qualidade de vida das pessoas de Gandra, mas não me deixaram", lamentou, invocando divergências com o presidente da Câmara, Alexandre Almeida, e garantindo que não aceitou "vender" a terra.
Em causa está uma reunião para a qual foi convocado, na Câmara Municipal, no passado dia 30 de novembro, para debater o litígio por um terreno que existe com a Junta de Recarei. O presidente da Câmara, Alexandre Almeida, terá, alegadamente, apelado à concórdia, dizendo que aquele terreno, com cerca de 30 mil metros quadrados, "também pertencia a Recarei", apesar de a decisão de um recurso de uma providência cautelar apontar a Junta de Gandra como proprietária, explica José Mota.
"Não aceitei que Gandra, a minha terra, fosse prejudicada. Abandonei essa reunião e, por isso, perdi a confiança política do presidente da câmara. Ele disse-me de caras, "se abandonar a reunião perde a minha confiança política"", assegura José Mota, que acusa o edil de se colocar ao lado de uma freguesia, quando devia defender todas. "Eu disse que de acordo com os meus princípios e valores não ia vender a minha terra. Fui eleito para defender a minha terra, não para defender os meus interesses, os de terceiros ou interesses inconfessáveis", acrescentou ainda.
"Colocaram-me perante cenários nos quais não sou capaz de me mover. Sempre lutei por causas e princípios. Ultrapassar certos limites colide com os nossos valores e integridade", afirmou José Mota. Por isso, para defender "o património de Gandra", entendeu que depois desta desavença não tinha condições de continuar no cargo. "As negociatas não me interessam para nada. Saio desolado por não poder continuar a exercer estas funções", lamentou. "Eu não me vergo a nada que prejudique a minha terra. Não vendi um metro quadrado desta terra, que era o que queriam", salientou o agora ex-presidente de junta.
Ainda assim, José Mota diz que continua a "apoiar este executivo". "Estou em desacordo com o presidente da câmara, mas não deixo de pensar que ele, noutras situações, tem estado bem em relação à freguesia de Gandra", alega.
Mas estranha que Alexandre Almeida não lhe tenha sequer ligado para o tentar demover da decisão de renúncia. "Dei a cara por ele. Fiz uma eleição muito difícil, porque depois de 12 anos ligado ao PSD candidatei-me pelo PS. Deviam ser gratos. Fiquei muito triste, porque a partir do momento em que não aceitei aquela opinião de dividir com Recarei ele, depois de retirar-me a confiança política, teve algum tempo para me ligar. Até hoje (ontem) ainda não me ligou", informa, não escondendo que, caso isso tivesse acontecido, poderia ter voltado atrás na decisão de renúncia ao mandato. "Agora, jamais", sentencia.
Contactado, o presidente da Câmara de Paredes não responde a questões. Limita-se a dizer que "lamenta, mas respeita e aceita" a decisão de José Mota. "Desenvolveu um trabalho digno de destaque em prol da sua freguesia e sempre defendeu Gandra. Merece o reconhecimento de todos", refere Alexandre Almeida, atestando que a equipa da Junta de Gandra, eleita pelo PS, "continua unida e motivada a trabalhar pelo futuro da freguesia e a merecer a confiança do executivo" camarário.