Procissão da Burrinha. Milhares em Braga para ver o cortejo que é "catequese ao ar livre"
As preces foram ouvidas, São Pedro ajudou, não houve chuva e as ruas de Braga encheram-se com milhares de pessoas, esta quarta-feira à noite, para assistir à Procissão da Burrinha, um dos momentos mais icónicos da Semana Santa.
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Antes de tudo o resto, porém, vale a pena recuar no tempo e antecipar o relógio em meio dia. Eram pouco mais de nove da manhã, chovia a cântaros e a hipótese de novo cancelamento da procissão, como no ano passado, parecia perigosamente real. Durante o dia choveu e houve sol. O desanuviar ao final da tarde deu enfim a tranquilidade necessária: a procissão podia sair.
Com a Igreja de São Victor como epicentro, o cortejo bíblico “Vós sereis o meu povo” – o nome oficial desta procissão – foi-se preparando com a azáfama própria destes momentos, perante o olhar atento de muitos curiosos, como Duvan e Patrícia, um casal de colombianos que está há um ano em Braga e que pela primeira vez vive a Semana Santa.
“Aconselharam-me a vir ver, que seria muito bonito, com um ambiente muito especial”, diz Patrícia ao JN, assegurando que ali está movida pela curiosidade de perceber, afinal, a razão para tantos lhe falarem da tal Procissão da Burrinha. Instantes depois, mal a banda de música que lidera o cortejo começa a tocar, Duvan puxa do telemóvel e começa um prolongado vídeo para gravar o momento para a posteridade. Como ele, são muitos os que o fazem também.
As atenções principais centram-se na burrinha que carrega a imagem de Nossa Senhora no quadro bíblico que retrata a fuga da Sagrada Família para o Egito. Vestido de São José, como sempre acontece desde 1998, está Clemente Alves: compenetrado, comanda os passos da “Vaidosa”, a burrinha deste ano, com o ar sério de quem assume ali uma grande responsabilidade. “Levo isto muito a sério”, tinha garantido, dias antes, ao JN.
“Especial e única”
À medida que o cortejo vai seguindo o percurso lento pela Avenida Central, muitos dos espectadores que se concentravam junto à Igreja de São Victor aproveitam para fazer o mesmo, escolhendo outro sítio. Há também quem regresse a casa, quem ponha a conversa em dia com quem ali encontrou e até quem, como Fátima Guerra, aproveite o regresso da procissão ao local de partida para ver o cortejo com mais detalhe.
“Infelizmente, não consegui chegar a tempo de ver a saída, mas vou fazê-lo agora, porque já está a dar a volta”, diz a bracarense, enquanto se posiciona para apreciar as cerca de duas dezenas de quadros bíblicos que compõem o cortejo, que não se resume à burrinha. Ali estão cerca de mil pessoas, grande parte deles figurados, a dar corpo a um cortejo que pretende ser uma espécie de “catequese ao ar livre”, como resumiu ao JN o presidente da Junta de São Victor, Ricardo Silva, que assume a organização juntamente com a paróquia.
Vindas de Oeiras, Eduarda Matos Godinho e Madalena Castro corroboram a ideia de que há muito mais para ver além da burrinha. “Esta procissão é diferente, é especial, é única. Não há nada no país que se aproxime”, garante Eduarda. Ambas fazem parte da Misericórdia de Oeiras e estão na cidade para participar, a convite da congénere de Braga, na Procissão do Ecce Homo, marcada para esta quinta-feira, às 21.30 horas.
“Todos os anos aproveitamos esse facto para vir a Braga desfrutar da Semana Santa. Mesmo no ano passado, em que as procissões não saíram devido à chuva, estivemos cá. Toda a envolvência é magnífica”, vinca Madalena.