"Os legumes e as frutas são muito melhores, é tudo das areias [campos de masseiras], fresquinho, fresquinho e os donos são uma simpatia" - as palavras são de Bernardete Moreira, cliente antiga de Raul Figueiredo, que, aos fins de semana, com a mulher e o filho, vende o que a terra dá, à face da Estrada Nacional (EN) 13, em Navais, Póvoa de Varzim. À semana, é vê-los no campo.
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Entre Aver-o-Mar e a Estela, a venda de frutas e legumes na beira da estrada é negócio antigo e com tradição. Nos últimos tempos, há "cada vez mais gente nova" a comprar. Puxa-os o preço, mas, sobretudo, os produtos mais frescos, comprados diretamente a quem os cultiva, numa terra em que as hortícolas têm fama.
"A classe dos 60 anos sempre comprou aqui, mas, agora, vê-se cada vez mais casais novos. Nos últimos anos, houve um "boom" de hipermercados, mas acho que agora as pessoas perceberam que a produção é a única que vende mais barato e que compram fresco e local", explica Raul, enquanto pesa um quilo de morangos. Faz questão que provem, responde a todas as perguntas, "dá a cara" por todos os produtos.
Conhece clientes pelo nome
Pelo meio, há sempre uma piada, uma gargalhada, um "miminho". Conhece quase todos os clientes pelo nome. É produtor, comerciante por grosso e retalhista. Durante a semana, trabalha no campo e vende para o Mercado Abastecedor do Porto. Ao fim de semana, completa o rendimento familiar com a venda direta.
Num troço de pouco mais de três quilómetros da EN13, há sempre duas dezenas de pequenos agricultores. A maioria tem entre 50 e 70 anos, vendem em pequenas quantidades, na entrada dos campos, das casas ou das garagens, os produtos que cultivam.
de vários concelhos
"Só vimos ao sábado. À semana, trabalhamos na terra para ter o que vender", salienta Maria da Luz Afonso. A banca foi improvisada na entrada de um campo. A caixa aberta da carrinha serve de balcão. A mulher amarra molhos de espinafres, ao lado, José Morim, o marido, arranja cebolas. As mãos escuras e calejadas não enganam. É gente do campo e que ali complementa a magríssima reforma, que mal chega para pagar os medicamentos de José, há 13 anos em tratamentos no IPO. Há cenoura, nabo, couves, salsa, batata, frangos e ovos caseiros.
"Tenho clientes já de há muitos anos. Vem gente do Porto, Maia, Santo Tirso, Trofa. Sabem que é mais barato, mais fresco e as coisas têm outra qualidade", explica.
À banca de Raul, Dulce e José Pereira vêm do Porto todas as semanas. Há muitos anos. É a qualidade que os "arrasta", diz Dulce. José diz que é a amizade, de quem já sabe do que gostam, ajuda-os a escolher, dá-lhes o melhor que tem.
Raul só lamenta que, nos últimos anos, a distribuição tenha "esmagado os produtores" e que, na maior parte das vezes, "os hipermercados não comprem em Portugal". O resultado foi a fuga da juventude. Aos 16 anos, o filho, Rodrigo, tem média de 19 valores e é forte candidato a entrar em Medicina. "Nunca teve explicações", afirma o pai, orgulhoso. No futuro, Rodrigo dificilmente continuará a trabalhar no campo, mas, por agora, Raul prefere não pensar muito nisso.