Previsões feitas com base no método do pólen apontavam para este ano entre 262 mil 287 mil pipas (550 litros), mas seca e temperaturas altas vão deixar a vindima bastante abaixo do intervalo mínimo
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"Prognósticos só fim do jogo". O chavão futebolístico cai que nem uma luva na previsão para a vindima deste ano na Região Demarcada do Douro. Até à colheita, a partir de finais de agosto, tudo pode ainda acontecer, mas não servirá para melhorar um ano que já é considerado mau e que vai ficar muito aquém das 264 mil pipas (550 litros cada) declaradas em 2021.
Esta previsão avançada, esta segunda-feira, em Vila Real, pela Associação de Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID) é feita com base no método de pólen. Ou seja, são dados que dizem respeito à fase da floração das videiras, cujo pico se deu na segunda quinzena de maio.
Tudo parecia correr de vento em popa, com "uma floração muito rápida", de acordo com Rosa Amador, diretora-geral da ADVID, mas "de junho para cá as condições ficaram mais adversas". Isto num ano que já era considerado seco, mas que, ainda assim, deixava antever uma boa colheita se a situação de seca não se agravasse, já que os viticultores falavam numa "nascença muito boa". Daí que, com base no método do pólen, tenha sido previsto por aquela associação um intervalo de produção entre 262 mil a 287 mil pipas de vinho.
O problema é que "para além da secura - já há falta de água para a videira - as temperaturas têm sido muito elevadas". A consequência é "o desavinho, menos expansão da ramagem da videira e bagos mais pequenos", frisa Rosa Amador, acrescentando que, ao contrário de outros anos, em 2022 não há influência de pragas e doenças.
Ora, perante este cenário, a diretora-geral da ADVID já dá como garantido que a produção "não vai atingir o intervalo mínimo (262 mil pipas). Todavia, diz que "é muito difícil prever qual vai ser a quebra". Tudo vai depender do impacto da meteorologia nas próximas semanas, sendo que tudo aponta para que o calor que se sente esta semana já vai ter "efeitos de escaldão nas uvas". Como diz o povo "os bagos cozem".
As previsões para 2017 foram muito idênticas às deste ano, tendo terminado a vindima com uma produção de 232 mil pipas. "Houve uma quebra acentuada e não sabemos se este ano pode ainda ser maior, tendo em conta o que ainda falta" até à colheita.
A Região Demarcada do Douro está dividida em três sub-regiões: Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. Na primeira (Régua, Santa Marta, entre outros) "ainda não se nota uma quebra muito acentuada, há quem diga que até pode haver um aumento de produção", no entanto, "no Douro Superior (Foz Côa, Moncorvo, entre outros) e em todas as cotas baixas já há uma queda acentuada devido ao desavinho e aos bagos mais pequenos provocados pela falta de água e temperaturas elevadas".
Mesmo nas vinhas regadas "as condições são bastante adversas, ainda que não sejam tão dramáticas", assegura Rosa Amador. É que "nem mesmo a rega está a conseguir fazer face à seca". Se as condições de secura e as temperaturas altas se mantiverem, "já nem é só a maturação que se coloca em causa, é mesmo a viabilidade da planta".