Chamam-lhe galega, mas é portuguesa e nasce nos olivais tradicionais da Beira Baixa. Já goza do estatuto de Indicação Geográfica Protegida (IGP), atribuído pela União Europeia, corolário da candidatura que a Associação de Produtores de Azeite da Beira Interior (APABI) entregou em Bruxelas em 2017, apresentando-se como "Azeitona Galega da Beira Baixa". O certificado foi entregue esta quinta-feira, no olival Fio das Beira, no concelho de Castelo Branco. No entanto, para os produtores a distinção não chega.
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Apesar de ser mais pequena, menos rentável e mais suscetível a pragas, a Galega impôs-se e está a ganhar espaço no mercado da azeitona de mesa.
Conseguir a IGP não é o fim, mas apenas mais uma etapa de um caminho que passa agora por sentar os produtores à mesma mesa, no sentido de concertar estratégias de produção e comercialização. João Pereira, presidente da APABI, explica que é preciso "dar valor comercial à Azeitona Galega da Beira Baixa". A IGP traduz "o reconhecimento e definição de regras comuns de produção e de um pacto de confiança com os consumidores, materializado na autenticidade e genuinidade da origem e do saber fazer", ficando a gestão a cargo da APABI.
A desertificação traduz-se no abandono dos campos e das culturas tradicionais. Mas para a centena dos produtores da APABI esta é também uma questão afetiva. "Gostaríamos de ter na Beira Baixa toda a fileira, da produção à conservação e comercialização", ou seja, "todo o ciclo, da árvore à mesa do consumidor". Seguem-se duas fases: "um trabalho de campo para sensibilizar os produtores para a importância de preservarem a produção" e "reunir os empresários, mostrando-lhes o potencial do investimento na indústria da conservação e comercialização da Galega para consumo, que pode valer três vezes mais que a azeitona para azeite".
Este selo pode ser importante para o cliente, que tem a garantia do que está a consumir
Os produtores são unânimes em afirmar que o selo IGP não basta. Luís Coutinho, da Tapada da Tojeira, em Vila Velha de Ródão, reconhece que a designação IGP "valoriza uma cultura que não é muito rentável, mas tem uma grande qualidade, uma estabilidade oxidativa muito grande, ou seja, tem uma maior durabilidade". Este selo "pode ser importante para o cliente, que tem a garantia do que está a consumir".
A Tapada da Tojeira está em produção biológica desde 1994, é a primeira marca bio da Beira Interior e uma das primeiras do país, tendo aumentado a quota de mercado, não só nas lojas gourmet, restaurantes e hotéis portugueses, mas também de França, Alemanha, Holanda ou Polónia, onde a coloca azeite, azeitona e pasta de azeitona.
Em Sarzedas, concelho de Castelo Branco, Pinto de Azevedo há mais de duas décadas adaptou novas técnicas ao olival tradicional da sua Casa Agrícola. Está satisfeito com a IGP, mas consciente dos desafios e limitações. "A maioria da Galega é feita em pequena escala", porque "ninguém vai plantar um olival de Galega de raiz", a não ser "que haja mais apoios, diferenciando-a das outras espécies", mais rentáveis e pagas ao mesmo preço.
Temos capacidade instalada para comercializar um milhão de quilos, mas estamos a deixar de satisfazer muitos pedidos, porque não há em quantidade
Mas na verdade, Eduardo Rodrigues plantou Galega em 120 dos 600 hectares da Fio da Beira, em Castelo Branco. "A certificação é importante, tal como aumentar o preço da Galega", porque, salienta, "há 25 anos o azeite custava mil escudos o litro e hoje custa menos de cinco euros".
Na região há apenas uma empresa a comercializar o fruto. A Probeira, de Mação tem "uma produção de 99 por cento Galega", que coloca no Brasil, Estados Unidos, Canadá, Austrália, África, Venezuela e uma fatia menor na Europa. Luís Pereira congratula-se por poder juntar à Galega a IGP, mas espera mais que isso.
"Temos capacidade instalada para comercializar um milhão de quilos, mas estamos a deixar de satisfazer muitos pedidos, porque não há em quantidade. Era bom que as entidades competentes ajudassem a não perder esta quota de mercado e a repensar os incentivos".
O selo IGP Azeitona Galega da Beira Baixa pode ser usado pelos produtores de todas as freguesias dos concelhos da Covilhã, Belmonte, Fundão, Penamacor, Idanha-a-Nova, Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Proença-a-Nova, Oleiros, Sertã, Vila de Rei e Mação.