Rui Garcia, de 57 anos, professor de Educação Física, residente em S. Pedro de Arcos, Ponte de Lima, e colocado em Elvas, a cerca de 430 quilómetros da sua residência, é hoje o rosto da luta dos professores contra as políticas educativas do Governo.
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Saltou para a ribalta mediática, após a sua história ter sido divulgada há dois dias numa reportagem da SIC, por estar a viver numa carrinha, a que chama de T0.
Alega que, apesar que estar a trabalhar, usufruindo de "um vencimento de 1200 euros líquidos" não possui condições financeiras para pagar uma casa na terra onde foi colocado para dar aulas. O docente que em anos anteriores lecionou em escolas de Ponte de Lima, dorme na carrinha, e almoça e toma banho na escola.
Nesta altura, assume que se tornou a face visível "de um problema que afeta os professores há muito tempo" e reivindica ter direito ao "alojamento acessível", contratualizado entre o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) e a Direção Geral da Administração Escolar (DGAE).
"Há pessoas que me estão a oferecer casas. Não me faltam casas neste momento, mas continuo à espera de uma resposta escrita das entidades que tutelam a matéria", afirmou esta quarta-feira, o seu 17º dia a dormir na carrinha, que tinha adaptado para campismo, ainda antes de ser colocado em Elvas.
"A primeira vez que dormi foi no dia 10 de setembro, domingo. Dormi junto ao aqueduto de Elvas", relata, admitindo que, face à onda mediática que se gerou nos últimos dias, a sua situação já podia estar resolvida. No entanto, exige que a tutela se pronuncie.
Conta que, na sequência de um alerta sobre a sua situação entregue na câmara de Elvas, foi-lhe oferecida pela DGAE uma casa, "um apartamento T4, partilhado com outros colegas, em Portimão, a "360 quilómetros" da escola onde trabalha. "Na minha opinião é uma brincadeira de mau gosto. É uma proposta que não se faz a ninguém", considera, reforçando que, nesta altura, "podia estar alojado", mas não abdica de lutar em nome dos professores, em situação idêntica à sua, colocados em escolas longe da sua área de residência.
"Está bom tempo. Tenho o S. Pedro do meu lado. É uma forma de alerta que põe em evidência um problema que existe e que não é de hoje", afirma, comentando que "se existem outros funcionários da administração pública, aos quais é, dada comparticipação nas despesas de deslocação e de alojamento, porque é que os professores também não tem esse direito. Será, porventura, que os professores são filhos de um deus menor". E conclui: "O que estou disposto a pagar é 10 por cento do meu salário [por um alojamento acessível]. Não mais. Não vou pagar para trabalhar. As condições em que estou a viver não são dignas, mas estou determinadissimo. Sigo a dormir na carrinha até que a saúde me permita".