As famílias de acolhimento (FAT) têm um papel crucial no dia a dia do projeto Bichos Felizes, ao abrirem a sua casa a cães e gatos em situação vulnerável, enquanto não são adotados. Em apenas dois meses, a iniciativa conseguiu a adoção de mais de 30 animais.
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Foi o "amor genuíno aos bichos" que levou Dami Paiva a criar o inovador Projeto Bichos Felizes, que garante o bem-estar a animais resgatados da rua antes de terem novos donos e um lar permanente. A responsável conta ao JN que já está na causa animal há alguns anos e que o projeto Bichos Felizes surge, como o nome indica, da "vontade de fazer os bichinhos felizes."
Este projeto vive do contributo voluntário das famílias de acolhimento que recebem os animais enquanto estes não são adotados. Dami Paiva explica que isso se deve ao facto de não existir um espaço físico, algo que está apenas ao alcance das associações e esta organização é apenas um projeto.
A criadora da iniciativa explica que para conseguir resgatar animais "é preciso haver, à priori, um sítio para os colocar", é aqui que entram pessoas como Helena Cunha e o companheiro que abrem as portas da sua casa para receber "os bichinhos" e o projeto trata de "tudo o resto", como veterinário, processo de seleção e adoção.
Zita, Zara, Zack, Zeus, Ziggy e Zeca, seis cães ainda bebés resgatados de uma pedreira estão neste momento aguardar adoção em casa de Helena, em Gondomar, e é já o segundo grupo de animais a ser acolhido. Helena Cunha conta, com um dos cães ao colo, que começou a colaborar com a iniciativa depois de ver um post na rede social Facebook a pedir ajuda para "Nutella e os seus seis bebés que estavam na rua à beira de uma estrada". Um mês e meio depois, todos estavam num novo lar.
Helena decidiu ser família de acolhimento porque adora animais "desde sempre", tendo já resgatado vários "ao longo da vida" que foram ficando consigo ou "com família muito próxima". Como já tem três cães, sabe que "não é viável ajudar os animais só dessa forma". Por isso, há algum tempo que pensava tornar-se uma voluntária, tendo mesmo contactado várias instituições, contudo, os horários impossibilitavam a sua participação enquanto voluntária. Um cenário que mudou quando viu o apelo para abrigar Nutella e as seis crias, algo que "mexeu" com ela.
A experiência está a ser "muito positiva", apesar dos desafios. Quando acolheu Nutella não a pôde juntar logo aos seus cães, "era muito medrosa e teve que ganhar confiança com as pessoas e os pequenos cãezinhos vieram com problemas de ácaros".
Apesar disso, ressalva que o projeto é "incansável" e teve apoio em tudo. "O maior medo era ficar em falta com os bichos e isso nunca aconteceu, até as mantas se ofereceram para me lavar, não faltou mesmo nada", acrescenta Helena Cunha.
Agilizar as visitas é um dos desafios para Dami, mas não é o único. Digerir o sofrimento com o qual se depara e "lidar com animais que são vítimas de muito sofrimento e maus tratos" é algo que "abala um bocadinho emocionalmente".
Adotantes têm de preencher formulário
A "triagem fina" de adotantes é uma etapa fundamental para impedir "adoções por impulso" e garantir adoções ponderadas e responsáveis . A organização encara a adoção dos animais como "um processo e não como uma entrega".
Na perspetiva de Helena, "não tem sido difícil arranjar interessados nos pequenitos", o mais complicado é encontrar pessoas que "tenham noção da responsabilidade que é adotar um animal".
O processo não termina com a entrega dos cães ou dos gatos, o contacto é mantido para acompanhar a evolução com a nova família. Ver o vídeo de Nutella feliz a brincar com o cão da família que a adotou é para Helena motivo para uma "alegria imensa".
Há, contudo, alguns animais como o gato Sid, com mais de dez anos encontrado "moribundo na rua" que vai ter de ser operado, e uma cadela pitbull adulta que não têm perspetivas de adoção para breve.
Apesar de terem um papel importante estas famílias não são a única vertente do projeto, existe também acolhimento em hotéis, quando não existe uma família disponível e há algumas parcerias que permitem "ter alguma visibilidade e também alguns donativos". Para além de ajuda financeira, a organização aceita também a doação de rações, patês, areias, caixas de areia, mantas, caminhas, trelas, peitoriais ou desparasitantes.
Neste sentido, Dami salienta a ajuda fulcral do canil de Gondomar e da veterinária municipal, sempre disponíveis. Lamenta que nem todos os canis sejam tão "cooperativos e prestáveis".
A página oficial na rede social Instagram tem também um papel importante ao divulgar o dia a dia dos animais com as respetivas famílias de acolhimento.
"Entre muito amor, mimo e paciência todo o processo se faz de forma super tranquila"
Inês, adotante da Crunch agora Izzy (os novos donos podem mudar o nome dos animais), teve conhecimento da história de Nutella através do mesmo post de Facebook e como a sua família "já andava a ponderar aumentar a família" e as suas duas filhas "gostavam muito de ter um cãozinho para crescer com elas" pensou ser a "altura certa".
A escolha do animal a adotar não foi tarefa fácil, porque a vontade era ficar com todos, mas a família "preencheu o formulário para adoção de um dos patudos chocolatinhos". A adaptação da Izzy está a ser "incrível", porque se adaptou "muito bem" não só às crianças como aos outros companheiros "de quatro patas", embora faça "as asneiras dela".
"Entre muito amor, mimo e paciência todo o processo se faz de forma super tranquila e feliz. Não tem como dar errado", exclama Inês.
Izzy, quando ainda estava com a FAT
Projeto bichos felizes/ Instagram
Já Carolina que adotou Bounty, agora Mallu, viu um anúncio na plataforma OLX e foi reencaminhada para o Projeto Bichos Felizes. Conta que foi acompanhada durante "todo o processo de adoção da melhor forma possível" e ainda hoje mantém o contacto com a organização. A sua família estava à procura de um membro de quatro patas , uma vez que já tinham uma casa, mas faltava "uma Mallu para a transformar num lar".
Quando viram Mallu no anúncio foi "amor à primeira vista" e quando visitaram os bébes , "apesar de serem todos lindos", já sabiam que seria ela a ser adotada. "A Dami e a Helena para além de tomarem conta destes patudos, mantiveram-nos sempre informados de tudo, estavam sempre a chegar mensagens e fotos. Parecia que já tínhamos desenvolvido uma ligação com a Mallu mesmo antes dela chegar", descreve Carolina.
Mallu, um pequeno furacão segundo os novos donos, porque "tem energia para dar e vender" e coloca a casa "do avesso", está num processo de aprendizagem, mas Carolina e a família "já não sabem o que é entrar em casa sem ela se atirar" para cima deles.
Mallu, quando estava com a FAT
Projeto bichos felizes/ Instagram