Aumento revolta alunos de mestrado de Ciências, que dizem não ter sido avisados. Universidade do Porto afirma que a decisão foi tomada em 2019.
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O aumento do valor das propinas dos mestrados na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) está a revoltar os alunos, que acusam a instituição de colocar os "interesses financeiros à frente dos estudantes". A alteração de valores, que em alguns mestrados chegou aos 375 euros, está a pressionar os jovens, que ponderam mesmo abandonar o curso a meio por não terem como pagar a diferença.
A Universidade do Porto (UP) esclareceu, respondendo ao JN, que a decisão foi tomada no fim de 2019 "fundamentada na intenção de manter ou melhorar a qualidade do ensino oferecido e das suas condições materiais". A FCUP não respondeu atempadamente.
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Os aumentos não foram iguais para todos os cursos e em alguns o valor sofreu apenas uma alteração de 50 euros anuais, passando de 1250 para 1300. Contudo, nos mestrados mais concorridos, o valor subiu para os 1625 euros, garantem os alunos.
"Esta decisão é muito injusta, até porque põe em risco muitos alunos que não deveriam ficar sem acesso ao ensino só porque não têm dinheiro", relata Joana Castro, estudante do mestrado em Biologia Celular e Molecular, que está a ponderar desistir por não saber como vai conseguir pagar o valor extra. "Vivo sozinha no Porto e todas as despesas estão ao meu encargo. Este aumento vai ser difícil de comportar", lamenta a jovem de 22 anos.
Dúvidas sobre apoios
Também Jéssica Roque, 23 anos, que frequenta o mesmo mestrado, está indignada com a decisão que chegou sem aviso. "Não recebemos nenhuma comunicação. Nem a secretaria nos soube explicar o que tinha acontecido", reclama Jéssica, acrescentando que estas falhas atropelam os direitos dos alunos. "O grande problema é que nem sei se vamos receber a bolsa de estudo porque somos todos trabalhadores estudantes", sublinha.
A UP garante que "os estudantes de mestrado podem candidatar-se às bolsas de estudo, através da Direção-Geral do Ensino Superior e dos Serviços da Ação Social da universidade", não falando nos critérios de seleção.
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Por sua vez, Ricardo Soares e Maria Ferreira, ambos de 24 anos, não compreendem os aumentos, uma vez que parece não ter havido qualquer critério definido. Já Mafalda Vieira, estudante do Mestrado de Ecologia e Ambiente, um dos que só aumentaram 50 euros, não duvida que haverá desistências já que muitos alunos estiveram em lay-off devido à pandemia de covid-19.
Alunos internacionais
Os aumentos estenderam-se aos alunos estrangeiros e aos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Gabrielle de Lacerda largou tudo no Brasil para vir estudar para o Porto com a certeza de estar a investir no futuro.
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"Fiquei muito revoltada com esta decisão absurda. Um aumento de 87% significa que vou pagar num ano o que tinha planeado pagar em dois", explica a jovem de 24 anos, que não pondera pedir ajuda aos pais já que no Brasil a economia foi bastante fragilizada pela pandemia. "Provavelmente vou ter de congelar a matrícula e trabalhar durante um ano", conclui.