A ilha açoriana de S. Jorge encontra-se em crise sísmica desde a tarde de sábado, porém a situação era estável ao início da noite de domingo e não havia indicadores de que o sistema vulcânico fissural de Manadas estivesse em situação de pré-erupção. Mas a Proteção Civil está em alerta.
Corpo do artigo
A crise foi desencadeada às 16.05 horas de sábado. Só nas primeiras 24 horas, registou cerca de cinco centenas de pequenos sismos, confirmou, ao JN, o presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), Rui Marques.
Por volta das 19.30 horas de domingo, somava mais de 750 sismos, mas nenhum foi de superior a 3,3 na escala de Richter, sendo todos de baixa magnitude, acentuou o especialista em vulcanologia e riscos geológicos. Pelo menos 48 sismos foram sentidos.
O Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores acompanha a atividade sísmica constante, tendo alertado os corpos de bombeiros e os presidentes das câmaras municipais de Velas e Calheta "para se manterem vigilantes".
Segundo Rui Marques, a crise sísmica observa-se no setor compreendido entre a Fajã do Ouvidor e a vila de Velas e a Norte da localidade de Manadas, com a maior parte dos abalos localizados em terra. Verificava-se flutuação da quantidade de energia libertada, sendo de destacar um período mais intenso neste sábado à noite e outro já na madrugada de domingo. Foram os mais sentidos pela população.
Duas estações adicionais
A situação está a ser acompanhada no terreno por uma equipa de técnicos destacada pelo CIVISA e transportada pela Força Aérea para a ilha, com duas estações sísmicas adicionais de monitorização de banda larga, destinadas a avaliar a atividade tectónica, mas também as frequências mais baixas, que podem estar associadas a atividade magmática ou a migração de fluxo em profundidade.
O responsável pelo CIVISA, que possui 37 estações de monitorização sísmica no arquipélago, disse não ser possível prever o agravamento, mas indicou estar a verificar-se uma estabilização do número de eventos sísmicos, sem que algum padrão indique o seu aumento ou o seu decréscimo.
Em relação à possibilidade de uma erupção vulcânica, salientou que a atividade registada era de cariz tectónico que nada tem a ver com vulcanismo, embora reitere a importância da monitorização. E entende que não estamos perante uma situação de pré-erupção.
Recorde-se que, em outubro, uma sucessão de crises sísmicas na ilha canarina de La Palma fraturou rochas e abriu o caminho ao magna, provocando a erupção do vulcão Cumbre Vieja, devastando importantes áreas e destruindo múltiplos edifícios. No caso de S. Jorge, "trata-se de uma crise puramente tectónica, mas num sistema que é vulcanicamente ativo", notou, ainda, Rui Marques.
Em Geologia, classifica-se como tal um sistema que registou erupções nos últimos dez mil anos. As duas erupções na ilha datam de 1580 e de 1808. "Quem vive nos Açores vive em sistemas vulcânicos ativos, exceto na ilha de Santa Maria".