Encarregados de educação, alunos, representantes sindicais e outros cidadãos juntaram-se, esta segunda-feira, no primeiro protesto contra a utilização excessiva de manuais digitais na aprendizagem.
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Catarina Alargão, representante dos encarregados de educação do Agrupamento de Escolas Martim de Freitas, e mãe de duas alunas, refere que quando a filha voltou à escola em 2021, após dois anos de pandemia, assistindo às aulas em frente a um ecrã, os pais foram informados de que duas turmas iriam integrar um projeto piloto de manuais digitais.
Começa por dizer que "tudo correu mal, desde o início: as licenças para os manuais só chegaram passado um mês e os alunos estiveram durante esse tempo sem manuais nem cadernos de atividades", acrescentando que queriam uma "transição suave e não brutal".
"Nós passámos de manuais e cadernos de atividades em papel para tudo em formato digital", aponta. Além disso, defende que há vários inconvenientes associados ao facto de os alunos levarem computadores para a escola, nomeadamente, problemas de visão (por estarem várias horas em frente ao ecrã), físicos (derivado ao peso dos computadores), financeiros (aquisição e possíveis reparações), falta de equipamentos e estruturas (falta de tomadas ou fraca ligação à internet na escola e apenas um técnico informático), segurança e proteção das crianças (perdendo o controlo sobre o que as estas pesquisam ou fazem na internet fora de casa).
Direito ao papel
Da mesma forma, Catarina Prado e Castro (cofundadora do Movimento "Menos Ecrãs, Mais Vida" e mãe de um aluno do 7ºano), revela que "um terço das escolas saiu" porque "a génese do projeto é questionável e só se conhecem prejuízos para a aprendizagem e para a saúde, em termos de visão, de aprendizagem, de conteúdos inapropriados, de distração ou componente não letiva", razão pela qual países como a Finlândia e a Suécia voltaram a introduzir os livros no seu sistema de ensino.
A responsável sublinha que a intenção é a mesma. "Queremos que as crianças voltem a ter direito aos livros em papel e não tenham apenas direito ao digital", observa. Quanto aos números estatísticos, esclarece que 80% dos pais desta escola, 85% dos pais a nível nacional e 87% dos docentes a nível nacional se manifestam contra o uso dos materiais digitais.
A opinião é unânime, como diz André Pestana, líder do Sindicato de Todos os Professores da Educação (S.TO.P.), que se associou à causa e ao Movimento "Menos Ecrãs, Mais Vida", afirmando que "ninguém está contra a tecnologia, apenas contra os manuais digitais exclusivos, porque aqui não há manuais em papel".
Pais, professores e alunos insatisfeitos
O responsável do S.TO.P. destaca que "não temos problema com os manuais digitais desde que como complemento, nada mais", corroborando a ideia já partilhada pelas duas representantes no protesto, de que "a Finlândia e a Suécia recuaram e reintroduziram os manuais em papel" e questionando por que razão Portugal insiste em continuar a utilizar os manuais digitais como único material de apoio na sala de aula, nesta escola.
Relativamente às opiniões, revela que "os pais, os professores e os alunos estão insatisfeitos", devido aos problemas "de saúde e pedagógicos" deste formato.
Quanto ao passo seguinte, refere que, após as 655 assinaturas conseguidas (e já confirmadas pelas outras responsáveis), vão "aguardar algum tempo" por uma resposta por parte da direção escolar. O protesto desta segunda-feira reuniu cerca de 30 participantes.