PS Açores vota contra programa do PSD e não viabiliza governo de Bolieiro
O PS Açores anunciou que vai votar contra o programa de governo que vier a ser apresentado pelo PSD, que venceu as eleições de domingo. Vasco Cordeiro disse que os socialistas não poderiam ficar reféns dos sociais-democratas e deixar a oposição para o Chega.
Corpo do artigo
Vasco Cordeiro anunciou, em conferência de imprensa, que o PS não vai viabilizar um governo do PSD nos Açores. "A orientação de sentido de voto que será transmitida ao parlamento açoriano é a de voto contra", disse o líder do PS açoriano.
Nos Açores, ao contrário do que acontece na Assembleia da República, o programa de governo é obrigatoriamente votado para que o executivo entre em funções. Assim, com o voto contra, o PS inviabiliza um governo do PSD. "Esta decisão foi aprovada por unanimidade na reunião do secretariado regional e também na Comissão Política dos Açores, que teve lugar em Ponta Delgada", revelou o líder socialista.
“Viabilizar o programa do XIV Governo em nome da suposta estabilidade, colocaria o PS na posição política de viabilizar também os orçamentos”, disse Vasco Cordeiro, explicando o não a Bolieiro. “O principal partido da oposição passaria a ser o Chega e o PS seria a muleta política do PSD”, acrescentou o líder socialista, considerando que isso seria “a subversão da vontade demonstrada pelos açorianos nas eleições”.
Vasco Cordeiro criticou “a arrogância de querer criar um quadro político em que o PSD não cede à chantagem do Chega, mas o PS parece ser obrigado a ceder à chantagem” de Bolieiro, o vencedor das eleições de domingo. “A responsabilidade é de quem criou este quadro político”, acrescentou.
O líder socialista considerou que “os apelos ao PS”, para viabilizar o programa de Governo de Bolieiro, constituem “uma forma de se tentar livrar de alguém que dentro da coligação se tornou muito forte”. Uma referência ao XIII Govenro constitucional dos Açores, que acolhia Chega e IL, esta última força política, que provocou eleições antecipadas ao votar contra o orçamento.
Considerando que “os partidos de direita e da extrema direita constituem a principal ameaça ao sistema político dos Açores”, Vasco Cordeiro disse que “há política nacional a mais e Açores a menos na forma como o PSD está a gerir o resultado das eleições” de domingo. “PSD e Chega estão a tratar o futuro dos Açores, não em função dos interesses dos açorianos, mas em função dos diretórios partidários nacionais, nomeadamente a pensar nas eleições de 10 de março”, acrescentou.
Vasco Cordeiro disse que “havia a necessidade de tornar clara a posição que o PS Açores assume face ao XIV Governo Regional”, justificando a posição de não viabilizar o programa de Governo a apresentar por José Manuel Bolieiro. “O PS Açores não se deixa evolver pela amálgama criada pelos partidos políticos da direita e da extrema-direita”, acrescentou o líder socialista.
“Não fugimos à responsabilidade de ser oposição”, disse Vasco Cordeiro. “Com humildade, vamos honrar a confiança demonstrada nas nossas propostas, nos nossos valores e nos nossos princípios”, acrescentou o líder socialista, durante um discurso, esta sexta-feira de manhã, em Ponta Delgada.
“O dever e a obrigação democráticos que recaem sobre o PS Açores, são os de afirmar as diferenças do nosso política, sobretudo quando estão em causa opções estruturares, como as que devem contar de um qualquer programa de governo”, argumentou Cordeiro, responsabilizando o PSD pela atual crise política açoriana.
Vasco Cordeiro considerou que a instabilidade política nos Açores assenta em três razões: “Primeira, a coligação não foi capaz de manter o apoio contínuo ao governo regional. O Governo caiu porque os partidos da direita não foram capazes de se entender; a segunda razão, o Chega, acarinhado pelo XVII Governo, cresceu demasiado; terceira razão, PSD fracassou no objetivo de alcançar a maioria.”
Nas eleições regionais de domingo, PSD/CDS-PP/PPM elegeram 26 deputados, ficando a três da maioria absoluta.
José Manuel Bolieiro, líder da coligação de direita, no poder no arquipélago desde 2020, disse que irá governar com uma maioria relativa nos próximos quatro anos.
O PS é a segunda força no arquipélago, com 23 mandatos, seguido pelo Chega, com cinco mandatos. BE, IL e PAN elegeram um deputado regional cada, completando os 57 eleitos.