Apesar dos concelhos que fazem parte do Parque das Serras do Porto constarem entre os cinco municípios a nível nacional com maior número de incêndios até ao final de julho, aquele pulmão verde da Área Metropolitana do Porto tem escapado quase incólume ao fogo.
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O incêndio mais grave deflagrou a 17 de julho, em Sobrado, Valongo, e propagou-se até Santo Tirso, onde atingiu dois canis e matou 73 animais.
O parque tem quase seis mil hectares de floresta, eucaliptos na maioria, mas a paisagem tem-se mantido a salvo este verão, com a exceção de pequenas áreas ardidas como a verificada na serra de Santa Justa, às portas da cidade de Valongo, ou em Senande, já na zona de Aguiar do Sousa, Paredes. Um cenário longe dos momentos de pânico vividos há 14 anos, quando as chamas quase cercaram a aldeia. "Tem sido muito calmo por aqui e não têm havido os incêndios que todos os anos aconteciam por estas bandas", conta Tatiana Pereira, que gere o café dos pais, a Tasquinha do João, em Aguiar.
O Parque das Serras do Porto, com um dos extremos em Valongo, passa por Gondomar na zona de S. Pedro da Cova, e termina ali no concelho de Paredes, já perto das margens do rio Douro, no vale com declives acentuados, conhecido pela Senhora do Salto.
"É natural que o maior número de ocorrências de incêndios rurais seja no território dos concelhos que compõem a Associação Intermunicipal das Serras do Porto, uma vez que é aí que se concentra a grande maioria da mancha florestal da Área Metropolitana do Porto", salienta Alexandre Almeida, presidente da Câmara de Paredes e presidente do Conselho Executivo da Associação do Parque das Serras, cargo que é ocupado rotativamente pelos três autarcas.
"Felizmente, os incêndios não têm atingido as zonas protegidas do Parque e estamos neste momento a tratar da instalação de uma Brigada de Sapadores para a Área Metropolitana, justamente para aumentar os níveis de prevenção do risco de incêndio", acrescenta o autarca.
Entulho acumulado
A equipa de elementos especializados no combate aos incêndios florestais, cuja criação foi anunciada há já dois anos, devia ter estado no terreno antes deste verão. O objetivo era ter 18 efetivos não só para prevenir e combater os fogos, mas também para fiscalizar e impedir o depósito de monstros e lixos diversos no "pulmão verde".
São muitos os utilizadores das serras e é habitual ver caminhantes e praticantes de desporto ao longo dos trilhos. Contudo, nas veredas mais escondidas surgem com frequência restos de obra, entulhos, velhos eletrodomésticos, sofás e móveis.
"Isto é muito bonito, mas é chocante quando entramos em certas zonas e vemos o lixo depositado. Devia haver fiscalização e multas pesadas para os infratores", considera Nélson Silva, residente em Belói, em S. Pedro da Cova.
Pedida vigilância
"A vigilância é competência da GNR, assim como a investigação. Para complemento da vigilância, o Parque das Serras do Porto tem um Posto de Vigia particular, pertencente à Navigator Company, que integra o dispositivo nacional", refere José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara de Valongo. "É imprescindível a existência de gestão ativa do território, designadamente dos respetivos proprietários dos terrenos, independentemente da espécie escolhida. Excluindo as empresas de celuloses, a grande maioria dos proprietários abstêm-se de gerir os seus terrenos, na medida em que é muito difícil obter rendimento com outra espécie que não seja o eucalipto", acrescenta.
À lupa
Fogos
No 4.º Relatório Provisório de Incêndios Rurais 2020 do ICNF (de 1 a 15 de agosto), Paredes lidera a nível nacional com 413 incêndios, seguindo-se Felgueiras com 175, Valongo com 151, Penafiel com 141 e Gondomar com 125.
Património
O Parque das Serras do Porto é composto por seis serras - Santa Justa, Pias, Castiçal, Santa Iria, Flores e Banjas, abrangendo território dos municípios de Gondomar, Paredes e Valongo.
Recursos
Existem três centros de receção: S. Pedro da Cova, Santa Justa e Senhora do Salto. Para além dos recursos naturais, há vestígios arqueológicos, moinhos, pontes, cruzeiros, capelas e alminhas ao longo dos percursos.
Gentes
A representar a ruralidade estão as aldeias de Couce, de Aguiar, Alvre, Brandião, Sarnada, Senande e Santa Comba, os vales ribeirinhos dos rios Ferreira e Sousa e as lendas associadas a estas povoações.