Moradores da Rapó-Taxo e dos Fantasmas, residências de Coimbra, estão a angariar fundos para comprar as casas, a três meses do fim do contrato de arrendamento.
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Duas repúblicas de estudantes de Coimbra, a Rapó-Taxo e os Fantasmas, precisam de angariar 450 mil euros até junho para comprar as casas, situadas na Rua Castro Matoso (junto às Escadas Monumentais), depois de não terem chegado a acordo com os senhorios. Os moradores, atuais e antigos, vão angariando fundos e apelam à sociedade civil, com a Universidade de Coimbra e a Câmara Municipal também atentas.
"Os antigos moradores são a nossa principal fonte, temos feito convívios com regularidade e temos um fundo de maneio para juntar dinheiro para a casa", explica ao JN Tomás Ferro, morador na Rapó-Taxo há um ano. As duas repúblicas têm o mesmo senhorio (o imóvel a que as duas casas pertencem é o mesmo) e não chegaram a acordo para a extensão do contrato, mas sim para o valor de compra, de 450 mil euros. "Juntemos o dinheiro que juntarmos, vamos sempre estar longe do valor pretendido", lamenta Afonso Almeida, morador dos Fantasmas.
No total das duas casas, vivem atualmente 17 pessoas, oito na Rapó-Taxo e nove nos Fantasmas. A juntar a estes, têm cinco comensais (não vivem na república, mas fazem lá as refeições). Os estudantes apelam à história e património destas casas. "Conciliamos a vida de estudantes com a de comunidade e mantemos viva a cultura da Academia e de uma casa que tem 54 anos", lembra Afonso Almeida.
Lutar por uma casa histórica
Tomás Ferro destaca o desgaste que a situação provoca. "Viemos para Coimbra para estudar e temos lutado para manter uma casa histórica", aponta Samuel Ferreira, colega de casa de Tomás, destaca a aprendizagem que têm tido na república. "Estou aqui há um ano e não somos meros moradores. Temos de administrar toda a casa e ainda tentar mantê-la. Somos nós que fazemos as obras, que reunimos com as entidades. Nenhum de nós é de Direito, mas já sabemos as leis todas", ironiza.
A situação levou a uma mobilização de outras entidades. A Universidade de Coimbra, como em outras casas, já financiou a compra em 10%, cedendo 45 mil euros. E o caso foi levado à última reunião do Executivo Municipal, com o vereador da CDU, Francisco Queirós, a apelar a um acompanhamento da situação.
"As repúblicas são património da humanidade", afirmou. José Dias, vereador do PS, apelando a um apoio da autarquia na compra das duas casas. Mas o presidente da Câmara, José Manuel Silva, lembrou um impedimento legal: "Não podemos ajudar a comprar casas privadas. Temos uma limitação jurídica, mas estamos a trabalhar nisso em vários departamentos. Ninguém quer mais preservar as repúblicas do que nós".
Segundo o vereador do Desporto e Juventude, Carlos Lopes, há outras possibilidades de apoio por parte da autarquia. "Pode passar por direito de preferência, por sermos avalistas ou garantir linhas de financiamento. Estamos a trabalhar na situação", admite.
Evocação
As boas memórias de um ex-governante
O antigo secretário de Estado do Desporto Emídio Guerreiro viveu nas duas repúblicas e está agora, juntamente com os antigos moradores, a ajudar na recolha de fundos. "Cada um está a contribuir e estamos a ver a viabilidade de um empréstimo, de maneira a que a prestação seja dentro do valor das rendas atuais", conta. Sobre os tempos que viveu nas duas repúblicas, lembra "muitas coisas boas e muitos amigos que ficaram para a vida, com quem ainda atualmente tem relações de amizade". A ligação de Emídio Guerreiro com as casas foi alargada, uma vez que a sua filha, Beatriz, foi comensal na Rapó-Taxo.
Dados
24 repúblicas de estudantes existem atualmente em Coimbra. A maioria já foi reconhecida pela Câmara Municipal como entidade de interesse histórico e cultural.
Mais de meio século
A Rapó-Taxo foi fundada em 1952, na altura num edifício junto à penitenciária de Coimbra (onde atualmente está outra república, a Rosa Luxemburgo), tendo mudado para as instalações atuais em 1969. Nesse ano foi também fundada a república dos Fantasmas.