Automóvel Club de Portugal estudou as mais perigosas e propõe alterações. Situação estende-se ao resto do país.
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Mais de 20% das ciclovias na cidade de Lisboa são de risco extremo ou elevado, uma perigosidade que se traduz em acidentes, por vezes fatais. Em dezembro passado, o presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, Pedro Sobral, seguia de bicicleta na zona de Belém, quando foi colhido por um automóvel e morreu. Em 2021, Patrizia Paradiso, grávida de cinco meses e investigadora no Instituto Superior Técnico, foi atropelada mortalmente na Avenida da Índia. O problema não é, no entanto, exclusivo da capital. Por todo o país, há ciclovias pouco seguras devido à falta de planeamento adequado, alerta Paula Teles, especialista em mobilidade.
O estudo Avaliação de Risco das Ciclovias de Lisboa, apresentado ontem pelo Automóvel Club de Portugal (ACP), analisou 51,56 quilómetros de corredores cicláveis na capital e concluiu que 22,1% dos segmentos são de risco extremo ou elevado (concretamente, 7,2% são de risco extremo e 14,9% elevado). Mais de metade (53,5%) dos troços apresenta classificação de risco médio e 24,4% risco baixo para quem lá pedala na capital.
Ao analisar diferentes cenários de colisões, o ACP percebeu que o embate entre bicicletas e outro tipo de veículos, o que tem consequências mais graves, é o que apresenta maiores riscos para os ciclistas: 7,1% dos troços encerram um risco extremo e 13,2% elevado, o risco médio sente-se em 29,8% dos troços e 49,8% têm risco baixo. O risco é maioritariamente baixo no que se refere a colisão entre bicicletas (95,6%), com peões (79,9%) ou acidentes só com bicicletas (57%).
Analisadas mudanças
O estudo analisou três vias de maior perigosidade - a Rua Castilho, Avenida de Berna e a Avenida Almirante Reis -, ensaiando propostas para torná-las mais seguras. Na Rua Castilho, um troço com 0,6 quilómetros está classificado como 100% de risco extremo face à "exposição total ao tráfego motorizado e à infraestrutura inadequada". A criação de uma barreira de segurança como uma faixa de rodagem adjacente de 1 a 3 metros (em 36 locais) e a revisão da abordagem de interseções (17) poderiam reduzir o perfil de risco global, passando o troço a ter 32,1% de risco elevado e 67,9% risco médio.
Na Avenida Almirante Reis (extensão analisada de 2,49 quilómetros), as alterações passam pela adição de barreiras de segurança junto às faixas de trânsito, com uma distância até um metro (em 154 nós). Medidas de acalmia de tráfego (30) e melhorias na iluminação complementam a intervenção. O risco, no que à colisão entre veículos e bicicletas diz respeito, que antes das intervenções era tido como extremo em 31,4% da via e elevado no resto, desceria para um nível baixo em 81,9% do troço, nível médio em 10,1%, alto em 6,4% e só 1,6% teriam risco extremo.
As alterações incluídas no projeto municipal de regeneração da Almirante Reis, que prevê uma transformação urbana em 2,8 quilómetros, desde o Martim Moniz até à Praça Francisco Sá Carneiro (Areeiro), com ciclovias separadas do tráfego, foi analisado e considerado positivo, pois proporcionarão "uma melhoria notável da segurança".
Entre as mudanças propostas para a Avenida de Berna - que se considera ter um risco extremo ou alto de colisões entre veículos e bicicletas em 72% da via - consta a instalação de medidas de acalmia de tráfego e de barreiras de segurança, perto de faixas de tráfego motorizadas. Estas alterações, numa extensão de 1,07 quilómetros, permitiriam que o risco de colisões entre veículos e bicicletas fosse atenuado.
Na Avenida de Berna, o estudo da ACP analisou a infraestrutura compartilhada de autocarros e bicicletas, num troço no sentido oeste-este. É proposta a separação da faixa Bus da pista ciclável, através da instalação de ciclovia elevada e com lancil (altura de 0,3 metros), para não haver contacto com o tráfego geral. Semáforos dedicados para ciclistas e desvios protegidos em paragens de autocarro, para eliminar conflitos durante o embarque e desembarque de passageiros, são outras medidas. Propõe-se, ainda, a melhoria na iluminação pública e sinais de prioridade em atravessamentos para evitar conflitos.