Milhares de cartolas e bengalas coloriram as ruas do Porto durante a tarde desta terça-feira. Os estudantes encheram pais e amigos de emoção.
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A cada passo via-se um ramo de flores - amarelas, verdes, laranja, azuis - estendidas sobre as grades, nas mãos de quem esperava ver os filhos, netos e amigos finalistas, que se preparavam para descer as ruas até à Avenida dos Aliados. O cortejo académico da Queima das Fitas, um dos momentos mais aguardados pelos estudantes, decorreu esta terça-feira e cobriu as ruas do Porto com cartolas e flores de várias cores, bengalas no ar e muita emoção.
A furar a multidão, Florinda Madeira lá conseguiu o lugar na primeira fila para poder ver a neta, finalista de Medicina, a correr rua abaixo. Sozinha, a idosa de 84 anos viajou de autocarro e de metro para às 12 horas estar na Trindade. Comeu "uma sopinha" e por ali ficou. Às 15 horas, ainda o cortejo não tinha arrancado, Florinda mantinha-se junto às grades, na ânsia de ver a sua "menina". "É um momento de muito amor e de muita ternura", afirmou, numa mistura de ansiedade e de felicidade.
Quando milhares de estudantes, de cartolas na cabeça e bengalas na mão, começaram a correr, a partir da Rua de Gonçalo Cristóvão em direção à Avenida dos Aliados, o ambiente tornou-se ainda mais eufórico. "Oh João!", "Mariana!", "Lili, anda cá ao meu beijo!", "Dinis!", gritavam os familiares e amigos que queriam muito abraçar os estudantes. "É uma emoção e um orgulho que não cabem no peito", afirma Margarida Ferraz, que tinha acabado de abraçar a filha Mariana, também ela finalista de Medicina. Com sítio "marcado" para ver o cortejo, Mariana já sabe onde encontrar os pais e os avós, que não falham um único ano. "É um momento inesquecível. Estou muito feliz de ver a minha neta médica", sublinha, emocionado, o avô António, de 88 anos.
Pensar no futuro
As cores misturam-se e os cânticos das diversas faculdades entoam pela cidade. À medida que vão descendo, os finalistas param para dar abraços e beijos aos familiares, para tirar fotos para recordar mais tarde e para levarem as tradicionais cartoladas. "[O cortejo] é muito marcante. Foram quatro anos de muito esforço, sinto-me muito realizada", diz Ana Isabel Teixeira, finalista de fisioterapia. Na mão leva uma flor, oferecida pela mãe de uma amiga. "Está cá a minha mãe, o meu pai e as mães das minhas amigas. Sem essas pessoas isto não fazia sentido", acrescenta a jovem de 22 anos.
Para Ana Isabel Teixeira, agora é hora de pensar no futuro e espera "ter boa sorte". Tal como ela, Pedro Coelho, finalista de Ciências da Comunicação, anseia ingressar no mercado de trabalho e "continuar a ser feliz" tal como foi "na faculdade". O cortejo, que tem sempre um sabor especial para os finalistas, para muitos é um momento de nostalgia e reflexão. "Foi uma caminhada especial e foi, sobretudo, uma aprendizagem enorme. Foram uns anos árduos, não posso mentir, de muito stresse mas também de diversão", afirma Hugo Brás, finalista de Direito.
Atrás dos finalistas, vêm, como sempre, os carros alegóricos com os restantes estudantes universitários. Entre eles, os caloiros, para quem tudo é novo e para quem o cortejo marca o início da vida académica. "É incrível. Saber o que conquistamos para estar aqui é muito bom", diz Beatriz Barbosa, de 18 anos, caloira de Medicina. Ao lado, a amiga Ana Rita Barreiro acrescenta que o momento é "inexplicável". Depois de já ter visto os pais, garante que "é sempre bonito vê-los" enquanto conquista as coisas que sonha.
Há quem não tenha os pais e a família por perto, mas, nem assim, o momento deixa de ser "memorável". "Para mim é sempre o momento do ano", sublinha Rodrigo Rocha, estudante de Engenharia Informática. O açoriano, de 19 anos, garante que os amigos da Academia são a família que tem no continente.