O espetáculo da Queima de Judas, em Vila do Conde, a realizar este sábado, celebra 20 edições e repesca momentos e personagens marcantes. Vai juntar 150 pessoas em palco e acontece a partir das 22.30 horas, na antiga Seca do Bacalhau.
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“São pessoas que trabalham das 9 às 17 horas e que, ao final do dia, vêm para os ensaios. Tudo por amor à camisola. É muito comovente e bonito”, diz Xana Miranda, olhando em volta os que, como ela, ensaiam à noite, ao frio e à chuva. No palco, há crianças de 4 anos e gente com mais de 70. São 150. Misturam-se crenças, classes sociais e até países. Este ano, a celebrar 20 edições, a Queima de Judas de Vila do Conde revisita os momentos, as personagens e as músicas mais marcantes.
É “uma homenagem à comunidade local”. Acontece este sábado, a partir das 22.30 horas, na antiga Seca do Bacalhau. A organização é da Nuvem Voadora - Associação Cultural.
Xana é Nazaru, a ditadora do Mal. Na vida real, formada em Teatro, é monitora do Centro Integrado de Apoio à Deficiência. O espetáculo, que em 2024 foi interrompido pelo temporal, começa onde terminou. Do outro lado está o Bem. Estão lá a rendilheira, as viúvas, os seres marinhos, a Maria do Mar, os bispos, os banqueiros, os ricos todo-poderosos, as forças da natureza e tantos outros heróis e anti-heróis das várias edições.
“As coisas não são pretas ou brancas. Não estão nos extremos. O próprio Judas tem um lado importante, tal como o inverno é importante para que exista a primavera. É desse balanço que falamos”, explica, ao JN, Pedro Correia, o diretor artístico do espetáculo, que mistura teatro, dança, música e artes circenses.
“Temos pessoas de vários países. Novos habitantes de Vila do Conde que encontram aqui um espaço de integração e isso deixa-nos contentes”, continua a contar. São todos voluntários. Uns vêm sozinhos, outros integrados nas várias associações do concelho. Há quem participe há 20 edições e quem, este ano, se estreie. Estão a trabalhar desde janeiro. As oficinas – cianotopia, escrita criativa e ator em construção – ajudam a dar corpo ao projeto. Fazem-se cenários e roupas. É “o processo” e não o espetáculo o mais importante.
“É muito mais do que teatro. As pessoas, a amizade, a interajuda e a multidisciplinaridade”, diz Ana Palhares, a viúva cigana da história, que, desde há 10 anos, vem de Gaia para participar. O espetáculo começa junto à Seca do Bacalhau. Termina na Praça D. João II. No final, o Judas acaba queimado. Antes deixa o seu testamento em tom de sátira aos males do concelho. A “libertação” marca o fim do inverno e a chegada da primavera. Agora, é só rezar para que não chova.