Valdemiro Pereira criou há 31 anos um lugar "prático" para que todos se lembrem do ambiente e biodiversidade. Projeto educativo precisa de apoios para não morrer
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Clara comeu pela primeira vez um trevo azedo aos nove anos. Foi durante a visita escolar que, há dias, a levou a estar em contacto mais profundo com a natureza na quinta biológica e pedagógica de Vilarinho do Bairro, Anadia, onde Valdemiro Gonçalves Pereira "plantou", há 31 anos, o projeto Aidos da Vila. Já Gonçalo, sete anos, que em casa tem apenas "erva artificial", encantou-se com o galo que ali encontrou. "Nunca se calava, é como eu", disse, ao JN, durante a visita.
Antes, ele e os amigos haviam aproveitado a robustez da trepadeira que dá pelo nome de "planta arame" para se sentarem, viram ovelhas e várias aves, perceberam como se produz mel num pequeno espaço dedicado à apicultura, ensaiaram corridas com caracóis, espreitaram um minhocário e muito mais.
Fixam melhor as coisas
"Embora morem aqui na zona, muitos meninos não conhecem a natureza", conta Susana Rolo, professora do 1º ciclo na escola de Vilarinho do Bairro, explicando que as crianças "gostam de participar, de experimentar. Levam este conhecimento e fixam melhor as coisas".
Valdemiro, 81 anos, o mentor do projeto, guarda a memória de, aos cinco anos, já meter as mãos na terra para semear feijão. Desde então, a paixão" e o reconhecimento do "valor da natureza, sementes e animais" foram crescendo.
Ao longo da vida foi economista, apicultor e trabalhou em jardins botânicos. Na casa dos avós, onde nasceu, criou o projeto Aidos da Vila onde procura "reaproximar o Homem da Natureza".
A quinta, que tem cerca de um hectare, encerra muitas valências, através das quais procura realçar a estreita relação entre "o trabalho, a alimentação e a saúde". Ali há produtos biológicos à venda, produz-se energia renovável, aproveita-se a água, recebem-se visitantes para "aulas" a céu aberto sobre ecologia, luta-se pelo reconhecimento da importância da semente para a preservação da vida (ler texto em baixo) e muito mais.
"Nunca o homem esteve tão distante da natureza. Estamos cada vez mais ignorantes em relação ao que é essencial na vida", lamenta Valdemiro.
Tem interesse mas...
O projeto, que tem sido financiado apenas através das poupanças do mentor, enfrenta atualmente dificuldades. Para além de apoio financeiro, é precisa também "mão-de-obra qualificada", explica Valdemiro Pereira, lembrando protocolos anteriores com estabelecimentos de ensino para acolher estágios e lamentando o estado de "abandono" em que se encontram algumas zonas da quinta.
"Ter isto tudo e ninguém especializado a trabalhar é terrível, afunda-se rapidamente", desabafa, explicando que, dada a falta de financiamento, o projeto já deveria ter "fechado".
Jorge Sampaio, vice-presidente da Câmara Municipal de Anadia, explicou ao JN que a autarquia "não pode dar subsídios a privados", mas procura colaborar na divulgação do projeto, que reconhece ser de "enorme interesse e qualidade".