<p>A Quinta Pedagógica das Romãzeiras é uma "minialdeia" habitada por doentes e deficientes mentais da Casa de Saúde Rainha Santa Isabel, em Condeixa, com vista à sua reabilitação. Aceitam-se visitas. Para quebrar o estigma.</p>
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O projecto está no início. Ainda não há animais nem frutos, apenas algumas sementeiras, num pedaço de terreno dedicado a agricultura biológica experimental. Das quatro casas, destinadas a "famílias" de cinco elementos, só duas estão ocupadas. Mas a felicidade vibra nos rostos das mulheres que já lá vivem. Antes, passaram pela Unidade de Ganhos de Autonomia, onde aprenderam tarefas domésticas básicas. Algumas não cozinhavam há décadas.
As moradias cheiram a liberdade. Permitem algo tão simples como ter fotografias da família à cabeceira. O primeiro grupo entrou há cerca de dois meses e até escolheu a mobília. Teresa (nome fictício) integrava-o. Aos 58 anos, mostra-se radiante com a mudança: "Sinto-me mais feliz aqui. Temos as nossas coisinhas, cumprimos tarefas". Ainda estão a adaptar-se à nova vida. "Gradualmente, vamos promover a sua autonomia", explica o terapeuta ocupacional Emanuel Oliveira.
Paulo Santos, psicólogo clínico e mentor do projecto, encara o espaço como um verdadeiro "ecossistema terapêutico", pois tudo, ali, favorece a cura destas mulheres. Emanuel Oliveira concorda e realça o sentido de responsabilidade que lhes é incutido (em fases posteriores, vão ser elas a produzir produtos biológicos e a tratar dos animais - há um burro na mira). Além disso, a receptividade a visitas, nomeadamente de escolas, promete ajudar a combater o estigma da doença mental.
O director clínico, Duarte Falcão, fala numa persistente carga negativa associada aos doentes do foro psicológico. Emanuel Oliveira vai mais longe: "Às vezes, sinto que as pessoas sentem repugnância, medo". E concretiza: "Há dois anos, convidámos escolas a participar em actividades de dança e movimento. Primeiro que os alunos dessem a mão às utentes... No fim, já andavam todos aos empurrões, acabara-se o estigma".
Conseguir algo assim, mas em larga escala, é o objectivo da Casa de Saúde do Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. "A interacção, na quinta, vai fazer as pessoas chegar àquele ponto em que já não existem barreiras", prevê Emanuel, um dos elementos da equipa técnica, multidisciplinar, encarregue da supervisão.
A educação ambiental dos visitantes é outra meta da Quinta Pedagógica das Romãzeiras. "Estamos na iminência de um desastre ecológico. Queremos que as nossas utentes sejam as mentoras do volte-face", explica a irmã superiora Alice. Nos planos está, por exemplo, a criação de uma central de compostagem. Já há painéis solares e pontos de reciclagem.
A quinta, que não descura o lazer, oferece-se como palco de actividades pontuais, como campos de férias, retiros ou exposições.