Uma mulher recusou abandonar a sogra. Morreram as duas carbonizadas, quando o fogo consumiu a habitação onde residiam, no Alto da Pena, no Funchal.
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A noite de foi dramática no Alto da Pena, no Funchal, com os incêndios a chegarem bem perto da cidade. O vento que soprava a mais de 70 quilómetros/hora arrastou as chamas e as pessoas fugiram como podiam. Numa das casas, na Travessa do Silvestre, viviam um casal e uma idosa acamada.
As chamas estavam perto e a mulher mais nova pediu ajuda para salvar a sogra. Houve vizinhos que acudiram, mas não conseguiram tirar a senhora de casa, pois não conseguiam suportar o seu peso. Com o aproximar das chamas, fugiram.
A mulher mais nova, com cerca de 60 anos, não abandonou a sogra, de 89, e as duas acabaram por morrer carbonizadas. Ninguém sabe explicar o que se passou. O JN falou com uma testemunha, que não se quis identificar, mas avançou com uma justificação para o sucedido.
"Estava pouca gente na zona porque vieram dizer para abandonarmos as casas", contou, para depois afirmar que todos acabaram por fugir porque o lume já estava no local. "Cada um safou-se como pôde. Não conseguiram tirar a senhora mais velha de casa, fugiram do lume e a nora não abandonou a sogra", concluiu.
No mesmo bairro, morreu outra mulher, já com alguma idade, que era invisual e acabou por ficar também sozinha em casa.
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Na zona onde as três mulheres morreram carbonizadas vítimas dos incêndios no concelho do Funchal desde segunda-feira as pessoas falam baixinho. A voz sai sussurrada e as frases são curtas.
O JN falou com o casal Maria da Luz e João Ornelas, que vieram ver o que resta da sua casa. "Pode subir", dizem, da entrada de uma porta que há poucos dias dava para a cozinha. Maria ainda tem lágrimas nos olhos, mas não se queixa. Diz que não restou nada, mas acaba por descobrir algo no meio do entulho. "João, ficou a imagem inteira", enfatiza, com surpresa, na direção do marido, olhando para uma imagem de Nossa Senhora de Fátima em cerâmica.
O marido entra em "casa" e recolhe a imagem. De pronto, Maria guarda-a dentro de uma bolsa. Um dia depois de perderem a casa trocam um sorriso. E têm mais uma história para contar aos três filhos.
Maria da Luz e João Ornelas ficaram sem teto e ontem voltaram a dormir nas instalações militares do RG3. Esta manhã, quando voltarem a despertar, vão olhar para a imagem que salvaram dos escombros. E Maria da Luz vai voltar a pedir "ajuda" para reconstruir a casa que ainda estão a pagar ao banco.