A CDU parou hoje junto à refinaria da Galp de Matosinhos, onde se juntou com cerca de meia centena de pessoas, entre antigos trabalhadores e apoiantes, para dizer que o Governo "não reconhece os melhores trabalhadores do mundo e os que produzem mais". E diz que o fecho fez aumentar as importações.
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Em maio de 2021, a Galp deu início a um despedimento coletivo de cerca de 150 trabalhadores da refinaria, chegando a acordo com 40% dos cerca de 400 colaboradores. César Martins, de 52 anos, e com 23 anos de casa, foi um desses trabalhadores. Está há dois anos e meio desempregado, embrulhado num processo judicial, juntamente com outros trabalhadores, na tentativa de reverter a decisão e de serem chamados para trabalhar na refinaria no projeto de hidrogénio verde de Sines, gerida pela Galp.
"Numa lógica de transição justa, o que fazia sentido era admitir os trabalhadores despedidos", reclama para perguntar "por que razão não fazem isso". "As alternativas que nos deram são utópicas", avalia, garantindo que "aos 52 anos não se consegue arranjar trabalho, nem sequer investir em lado nenhum em tempo de guerra e de uma inflação".
"Estou a fazer um curso de marinheiro maquinista, sem garantia de que no final terei emprego. Mas também não é esta a vida que pretendo, estar afastado de casa três meses nesta idade. Tive um estilo de vida e agora tenho de alterar?", continua, retomando a questão da transferência para Sines que muitos trabalhadores veem como opção, mas que a Galp recusa.
Atualmente, a refinaria em Matosinhos é uma espécie de "indústria de armazenagem", de acordo com Carlos Cunha, de 45 anos, poupado ao despedimento e que trabalha nas instalações que a refinaria ainda vai mantendo.
"Não houve processo de transição, houve o anúncio do desmantelamento de uma indústria de petroquímica. O país e a Península Ibérica estavam dependentes de todos os produtos que produzíamos aqui e ficámos dependentes de terceiros para o mercado nacional", lamenta o trabalhador, partilhando que se perdeu "autonomia e 137 postos de trabalho". "Tínhamos produtos como o VGO (gasóleo de vácuo) que só nós produzíamos e que agora mandamos vir dos EUA, estamos dependentes das importações sul-africanas e dos EUA", conta.
Mais importações e menos exportações
"Nós aqui recebemos o produto de outros países e fornecemos ao mercado nacional. Esta área abastece 33% do mercado nacional, o que é imenso", diz Carlos Cunha, justificando que com "a falta de aposta da Galp em Matosinhos", as exportações diminuiram para dar lugar às importações.
Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP e candidato a São Bento às legislativas 2024 pela CDU, falou num palanque improvisado sobre a relva junto à refinaria de Matosinhos, onde culpou o Governo pela "crise económica" que vivem os trabalhadores da refinaria.
"Aqui estão os melhores trabalhadores do mundo, os que produzem mais e que não são reconhecidos pelo Governo", atirou o candidato.
"O país tem que apostar na economia nacional. Passámos a comprar lá fora o que produzíamos cá dentro", criticou, para chamar a atenção do "escândalo" da refinaria continuar a receber incentivos. "É uma vergonha que uma empresa como a Galp, que tem milhares de milhões de lucros e acrescem benefícios fiscais e ajudas para tudo, enquanto o nosso tecido empresarial está cada vez mais apertado", afirmou para rematar que "isto é um caminho de destruição, onde os tubarões engolem o peixe-miúdo". Raimundo também incluiu no seu discurso o exemplo da multinacional Efacec que "é uma empresa de ponta, do melhor que há no mundo naquilo que faz, essa empresa altamante qualificada, podia ser uma alavanca para aumentar a produção nacional e alargar o setor empresarial". E pergunta: "O que é que o Governo faz com o dinheiro de todos nós". "Entregou a empresa ao investor alemão, que vende hoje sapatos, ou vai amanhã à pesca, porque o que interessa é a rentabilidade financeira, independentemente do que produza ou não produza", responde no próprio discurso.
O secretário-geral recordou ainda o tempo de campanha que é o "tempo da chuva de promessas". "Fala-se muito em investimento e o que é que se fez com a Efacec? Entregar a um estrangeiro. Muito obrigada", ironizou.
A caravana da CDU seguiu caminho até ao centro de Matosinhos para uma arruada ao fim do dia.