Projeto da Lionesa inclui espaço de reflexão e jardins. Ambição é relançar o local nos Caminhos de Santiago.
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É o projeto que promete "relançar Leça do Balio [Matosinhos] como um ponto nevrálgico dos Caminhos de Santiago", destaca o historiador Joel Cleto, curador dos conteúdos programáticos e expositivos do futuro espaço que nascerá no mosteiro e na zona envolvente, imóveis adquiridos pela Lionesa.
A intervenção estava previsto ficar concluída neste ano, mas "houve uma série de fases que se tiveram de cumprir", revela Viviana Cardoso, coordenadora do projeto do mosteiro. Nomeadamente, "questões burocráticas" relativas à aprovação dos projetos de especialidade.
É que a empreitada inclui não só a reabilitação do edifício da quinta do mosteiro, mas também a construção de um espaço de reflexão, da autoria de Siza Vieira, e a área dos jardins envolventes - cerca de 3,8 hectares - da responsabilidade de Sidónio Pardal.
Com o licenciamento da obra já aprovado pela Câmara de Matosinhos, pela Direção Regional de Cultura do Norte, pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e pela Agência Portuguesa do Ambiente, Viviana Cardoso estima que os trabalhos tenham início "no último trimestre deste ano".
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"O grande objetivo é que a obra dure apenas um ano e que o espaço possa abrir portas na Páscoa de 2022", apontou a responsável.
Vestígios encontrados
Joel Cleto revelou ao JN que "há mais de um ano" arrancou o levantamento arqueológico do local, com a presença de mais de uma dezena de técnicos, que permitiu "conhecer um pouco melhor" o espaço, assim como "valorizá-lo".
Entre os vestígios encontrados estão sepulturas medievais dentro dos claustros, que foram preservadas, alguns fragmentos cerâmicos, elementos que comprovam onde estaria localizada uma das entradas do mosteiro, e até a sapata de uma torre.
Atualmente, o trabalho de arqueologia vai já na terceira fase, com os profissionais dedicados ao levantamento de siglas que vão encontrando nas pedras.
Joel Cleto explica que estas marcas de pedreiro serviam, por exemplo, para "datar acontecimentos de construção, como forma de contabilizar o trabalho feito, ou pura e simplesmente eram marcas de assinaturas".
A intervenção, segundo Viviana Cardoso, deverá arrancar pelo edifício principal da quinta, cujo projeto de reabilitação estará a cargo de Siza Vieira. "É aí, na sala do Capítulo, depois de subir a escadaria, que o público terá acesso à exposição", explicou.
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Preço por definir
Todavia, de acordo com a mesma responsável, ainda não é certo se a intervenção - que na prática se divide em três: casa, espaço de reflexão e jardins -, acontecerá toda ao mesmo tempo ou por fases. "Não temos a certeza de como o faremos, uma vez que teremos de ter em conta a otimização de custos", salientou.
Como também ainda não está definido o valor da entrada que o visitante terá de pagar, mal aceda ao espaço pelo largo da igreja.
Joel Cleto não tem dúvidas de que este projeto trará a Leça do Balio "a mesma importância que teve na Idade Média".
E como "ponto central" dos Caminhos de Santiago, em 2022 o peregrino que aqui chegar poderá contar com uma área de acolhimento, onde não faltará o lava-pés e um espaço de primeiros socorros.
Caminho da arte
Viviana Cardoso e Joel Cleto confirmaram ao JN que há conversações com o Turismo do Porto e Norte de Portugal para que seja criado um itinerário cultural, "O Caminho da Arte", desde o Porto até Santiago de Compostela, com várias peças contemporâneas. Em Leça do Balio, para além do espaço de reflexão de Siza Vieira, Sidónio Pardal tem previsto colocar nos jardins outros elementos artísticos com a recriação da Via Sacra.
Classificação
Em 1910, o Mosteiro de Leça do Balio foi classificado como monumento nacional. Mas uma reinterpretação fez com que a classificação ficasse associada apenas à igreja. Situação que a Lionesa, atual proprietária do mosteiro, quer reverter. Para isso, já apresentou uma exposição à Câmara de Matosinhos para que "no mínimo o espaço seja classificado como monumento municipal", referiu Viviana Cardoso, coordenadora do projeto do mosteiro. Outras exposições já seguiram para a Direção Regional de Cultura do Norte e Direção-Geral do Património Cultural.
"Aliança forte"
De acordo com Viviana Cardoso, a Lionesa está empenhada em criar "uma aliança forte" entre o património que lhe pertence. Nomeadamente, entre a Livraria Lello, e o Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e o Mosteiro de Leça do Balio, em Matosinhos. "A preservação será o foco que os une", resumiu.
6 milhões de euros é o valor do projeto
Inclui a reabilitação da casa, que vai albergar a exposição, e zona envolvente, onde se incluem o espaço de reflexão, desenhado por Siza Vieira, e o projeto paisagístico, a cargo de Sidónio Pardal.
2022 ano em que está prevista a abertura
O objetivo é que este núcleo abra na Páscoa de 2022. Ano a seguir à celebração do Jubileu (quando o dia do apóstolo Santiago, 25 de julho, é celebrado ao domingo).