Reciclagem de resíduos orgânicos já abrange 65 mil famílias. A Câmara do Porto faz balanço positivo do projeto.
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Com uma "taxa de aceitação de 96%", o projeto Orgânico, lançado em abril de 2021 pelo Município do Porto, em parceria com a Lipor, para estimular a separação e reciclagem de resíduos orgânicos domésticos já abrange cerca de 65 mil portuenses e permite a recolha de 100 toneladas por mês, através dos mais de 400 contentores, com controlo de acesso, instalados na cidade.
A implementação é mais significativa na zona ocidental, mas a Autarquia adianta que a expansão do projeto "prevê que abranja praticamente toda a cidade até ao final de 2023, e engloba, já este ano, o alargamento da rede de contentores para cerca de 650".
No ano passado, a taxa de reciclagem "foi de 39,26%, superando a meta de 31%, com os portuenses a enviarem menos duas mil toneladas de resíduos para o indiferenciado", indica a Câmara, que em agosto instalou duas ilhas de compostagem comunitária - no Amial e em Paranhos -, o que possibilita a reutilização, nas hortas caseiras, do composto orgânico resultante da decomposição dos biorresíduos. O projeto envolve 120 famílias - 88 no Amial e 32 em Paranhos -, e é acompanhado por técnicos da Lipor. O Município também tem incentivado a compostagem caseira, através da distribuição de mais de dois mil compostores.
"Agradável surpresa"
O balanço é positivo, destaca o vereador do Ambiente. "Tem sido uma agradável surpresa, porque as pessoas já estão bastante conscientes do problema dos resíduos orgânicos e da importância de contribuirmos para a proteção do planeta", observa Filipe Araújo, lembrando ainda o sistema de recolha porta a porta, criado em 2018 e que abrange duas mil habitações unifamiliares das zonas das avenidas Antunes Guimarães e Marechal Gomes da Costa.
Reportagem
É uma mais-valia poder utilizar o adubo biológico
Há de quase tudo na pequena horta caseira de Maria e Manuel, nas traseiras da casa onde o jovem casal mora há cerca de três anos, no Bairro do Amial, no Porto. Ali despontam alfaces, batatas, tomates, pimentos, alhos, rabanetes, cebolas... E até cresce um limoeiro e uma bananeira. Tudo o que a terra lhes dá vai parar à mesa - deles ou dos vizinhos -, e desde fevereiro que os resíduos destes e de outros produtos orgânicos que consomem são separados, reciclados e reutilizados nas hortas, graças a um projeto-piloto de compostagem comunitária que a Câmara do Porto e a Lipor implementaram, no verão do ano passado, em dois bairros da cidade.
"Já fazíamos reciclagem, este foi mais um passo. É um ciclo bom para a diminuição da poluição e do desperdício", avalia Maria Fermeiro, que cresceu na Guarda e, tal como o companheiro, de Mirandela, viu os pais dedicarem-se ao cultivo da terra. "Tem impacto já ter tradição anterior", nota Manuel Silva, para quem "é um pequeno luxo" poder usufruir de uma horta no meio da cidade.
"Vale ouro"
"Ter este cantinho de terra é uma mais-valia. Tendo uma hortinha, conseguimos tirar [legumes] para a salada. E tem outro sabor", afiança Maria, estudante de 22 anos. Isabel Carvalho, vizinha com mais quatro décadas de vida, concordará. "O que tiro da minha horta vale ouro. Sabemos o que estamos a comer. Ainda ontem fiz sopa com espinafres. Fui lá na hora e apanhei", conta a moradora, entusiasmada com a possibilidade de colher o adubo resultante da decomposição dos resíduos orgânicos produzidos pelos habitantes do Bairro do Amial.
"Logo que esteja disponível, penso vir recolher", adianta Isabel, há muito adepta da reciclagem. "É muito importante. Sempre fui de reutilizar tudo, e estou habituada a separar [o lixo]", diz. "Agora vai ser a reutilização total", aplaude Manuel Silva, que considera "uma mais-valia poder utilizar o adubo biológico" que resultará da matéria orgânica colocada na ilha de compostagem, que conta com 10 compostores.
A monitorização está a cargo de Rafael Moutinho, funcionário da Lipor que assume o papel de mestre de compostagem. "O objetivo do programa é fechar o ciclo dos materiais dentro das cidades", salienta Susana Freitas, engenheira do Ambiente na Lipor.