O reforço da aposta na ferrovia como eixo estratégico foi o principal ponto de consenso entre os participantes de um debate promovido, esta quarta-feira, em Lisboa, pela Associação Portuguesa de Empresas Ferroviárias (APEF), que reuniu representantes de cinco partidos com assento parlamentar (AD, PS, Livre, CDU e BE).
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O ponto de partida centrou-se nas metas do pacto ecológico europeu, que recomendam um transporte mais ecológico e sustentável e apontam para que Portugal consiga em 2050 ter 50% do transporte de mercadorias realizado por comboios.
Segundo os intervenientes, a ferrovia deve assumir um papel de maior relevância, sobretudo no transporte de mercadorias, em detrimento da tradicional opção pela rodovia. Para tal, consideram que é necessário que o país adote políticas públicas que aumentem a atratividade do transporte ferroviário, considerando-o não apenas como uma alternativa, mas como uma prioridade nacional. Pelo meio, o foco esteve ainda na falta de investimento no setor ao longo das últimas décadas, os valores cobrados aos operadores pela taxa de uso (as chamadas "portagens dos comboios") e a necessidade de criar políticas que, além de teoricamente atrativas, tenham aplicação prática no terreno.
Gonçalo Lage, deputado da AD, sublinhou a falta de competitividade do país neste setor. "Não conseguimos ter condições competitivas que possam ligar os nossos portos à Europa enquanto continuarmos a ter condições de custo-contexto bastante penalizadores para as empresas que operam em Portugal`", observou, acrescentando desde logo, que "no governo anterior ainda esteve previsto um aumento de mais de 20% da taxa de utilização da infraestrutura, que este governo já conseguiu de alguma forma reverter e que possibilitou que o mesmo não fosse aplicado, criando aqui um fator de competitividade adicional".
Aumento da eficiência
Já na ótica de Frederico Francisco, representante do PS, aquilo que pode fazer "uma grande diferença" na redução de custo do transporte ferroviário de mercadorias, é "o aumento da eficiência". E exemplificou: "A principal forma de o fazer é aumentar a carga transportada por comboio. E é por isso que o Plano de Investimento de Ferrovia 2020 tem como principal foco dotar as ligações entre os portos e as principais fronteiras com a capacidade para circular em comboios de 750 metros".
Um ponto de vista corroborado por Isabel Mendes Lopes, do Livre, que sublinhou a importância de garantir que os comboios sejam mais eficientes. "É muito relevante que sejam o mais compridos possível e que façam o máximo de distância", observou, destacando ainda que é preciso "fazer sempre a análise entre a taxa de uso e o custo do transporte rodoviário, porque este acaba por ser muito mais flexível e muito mais fácil de utilizar".
Mais investimento é necessário
Na discussão, os representantes partidários concordaram que um dos problemas com que a ferrovia se debate é o atraso nos grandes projetos em curso. Mas, Bruno Dias, pela CDU destacou que o investimento não se limita a trabalhos no terreno. "Investimento não é só obra, e às vezes há pequena obra que é decisiva".
O representante dos comunistas destacou ainda a oportunidade que o desenvolvimento da ferrovia pode trazer ao país. "Deve haver uma política industrial e económica, que permita ultrapassar e vencer esta suposta inevitabilidade de sermos, um corredor de mercadorias daquilo que chega de navio e vai para outras paragens e a gente fica a ver passar".
Finalmente, Nelson Peralta, do Bloco de Esquerda, destacou a necessidade de investimento na infraestrutura para passageiros e para mercadorias. "Garantir, por questões de eficiência, que os passageiros passem do transporte individual para o comboio e que haja menos camiões e passe a haver transporte ferroviário de mercadorias, referiu.
No final, Miguel Rebelo de Sousa, diretor-executivo da APEF, sublinhou, em jeito de conclusão, que "toda a gente foi unânime em considerar que é preciso mais investimento, embora cada um com a sua visão diferente".