<p>Eduardo Rosa, de 61 anos, reformado por invalidez, vive numa casa atulhada em lixo, no Bairro Padre Américo, em S. Julião, freguesia da Figueira da Foz. Uma questão de saúde pública que perturba a vizinhança. Maria Vieira vive, por baixo, num desespero. </p>
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"A miséria escorre para a minha casa! Chove dentro da minha casa, com tudo o que se passa lá em cima!", protesta Maria Vieira, de 62 anos. O presidente da Junta de Freguesia de S. Julião, Góis Moço, pergunta-lhe por que motivo nunca denunciou a situação, que a afecta "há anos". Nervosa, não sabe responder. Pede só que a avisem quando removerem o lixo existente no andar superior: "Saio logo de casa, senão vou para a morgue!", desabafa.
"Nem na África profunda"
O que se passa no número 22 do chamado "Bairro dos Pobres", onde ninguém paga renda, constitui algo que Góis Moço não viu nem na "África profunda", nos seus tempos de militar. "É uma casa a abarrotar de lixo, com corredores muitos estreitos, no chão, forrados com roupa velha, para absorver a humidade", descreve. Some-se a falta de água corrente e de electricidade, as janelas com vidros partidos, as infiltrações.
Mal soube do caso, o autarca foi até à casa e conseguiu que Eduardo Rosa lhe abrisse a porta. Um golpe de sorte, já que o indivíduo não costuma responder ao chamamento. O JN tentou, anteontem, sem êxito. E, antes, havia acontecido o mesmo a uma equipa composta por elementos da Segurança Social, da Autarquia e da Delegação de Saúde, explica Góis Moço, que deu o alerta. Na próxima semana, há segunda tentativa.
Eduardo Rosa - que aufere pouco mais de 200 euros por mês e ajuda num restaurante, a troco de uma refeição -, estará há dez anos a acumular lixo. Ao que Góis Moço apurou, recorreu à Cruz Vermelha Portuguesa uma única vez, em 2004, e vive "completamente à margem" desde então.
"Pretendemos intervir no plano da acção social e fazer o acompanhamento necessário, mas queremos que a pessoa colabore", disse o presidente da Câmara da Figueira da Foz, João Ataíde. O JN tentou ouvir a delegada de Saúde local sem êxito.