Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) comprovou que o acolhimento de refugiados em regiões do Interior do país tem sido "muito positivo". Beneficiam de custos de vida mais baixos, maior facilidade de acesso à habitação e relações interpessoais de maior proximidade.
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O estudo foi apresentado, esta sexta-feira, na UTAD, em Vila Real, durante o "I Encontro sobre Desafios e Políticas de Integração de Migrantes - Uma Visão Atlântica". Foi desenvolvido por Octávio Sacramento e Pedro Gabriel Silva, investigadores do Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento da UTAD, com a colaboração de Elizabeth Challinor, investigadora do Centro em Rede de Investigação em Antropologia da Universidade Nova de Lisboa.
Os cientistas estudaram vários casos em zonas de baixa densidade populacional dos distritos de Vila Real, Viseu, Castelo Branco e Porto, com recolha de dados junto de meia centena de instituições com responsabilidade direta no contacto com refugiados.
Octávio Sacramento lembrou que, até 2015, "Portugal recebia refugiados, praticamente só em Lisboa". E eram poucos. "Desde o 25 de Abril de 1974 até 2015 não terão passado de 500". A partir de 2017, com o aumento da entrada de pessoas que fugiam de guerras e condições de miséria em países como a Eritreia, Síria, Iraque, entre outros, tomou-se a decisão de se fazer um acolhimento disperso pelo país.
Grande oportunidade
Para os cientistas, isto colocou "muitos desafios às entidades locais, autarquias e não só", porque "foi tudo muito repentino". Havia "falta de tempo para preparar habitações, escolas, sistemas de tradução e questões relacionadas com saúde", entre outros. Entretanto, "houve uma evolução muito significativa" e "houve aprendizagem tanto nos territórios como no Governo", pelo que o acolhimento disperso "começa a amadurecer".
O que os investigadores também concluíram é que "os técnicos das diferentes instituições, em meios mais pequenos, conhecem-se mutuamente". Tal faz com que consigam "mobilizar um capital social e agilizar respostas para os refugiados", o que "em meios onde não há esse interconhecimento é muito mais difícil".
Na iniciativa desta sexta-feira, na UTAD, falou-se abundantemente de migrações. Presente no encontro, o secretário de Estado Adjunto da Presidência, Rui Armindo Freitas, sublinhou que o Governo olha para a integração dos imigrantes como "uma grande oportunidade". Ressalvou, porém, que "só com regras claras, só com um Estado funcional" é que se consegue "garantir um ambiente de serenidade" para os que vivem em Portugal e para os que procuram o país.
Convento de portas abertas para os imigrantes
Foi com este objetivo que a Junta de Freguesia de Mouçós e Lamares, em Vila Real, propôs à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) um protocolo, já aceite, para criar o primeiro posto de atendimento para imigrantes dos distritos de Vila Real e de Bragança. O autarca, Hélder Afonso, explicou que atualmente "para se dirigir a estes balcões é preciso ir ao Porto ou a Viseu".
Desde dezembro de 2022, passaram pelo Convento de Balsamão, em Macedo de Cavaleiros, cerca de 300 imigrantes e refugiados de mais de 15 nacionalidades. Foram ali acolhidos temporariamente, enquanto não lhes foi possível encontrar melhores condições de vida. Atualmente, permanecem 21 refugiados e 30 migrantes, com idades entre 20 e 68 anos.
O reitor do espaço, padre Eduardo Novo, explicou que tinham alojamento local para turismo, mas agora "é um convento de portas abertas para os imigrantes". Além do acolhimento, recebem formação e apoio para se integrarem. Vários deles já se fixaram em Trás-os-Montes.