Não há como perceber o significado da Regata de S. João sem antes se falar na Confraria do Vinho do Porto e dos objetivos que levaram à sua criação.
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Sonhada em 1945, só viria a ser fundada em 1982, com a grande bandeira de "difundir, promover e consolidar o nome do vinho do Porto em todo o Mundo".
A primeira regata surgiu um ano depois. Os rabelos tinham deixado de ser utilizados no transporte do vinho do Porto, desde meados da década de 60, por isso não havia razão para os construir e manter. Nesse ano, a competição contou apenas com quatro barcos, de quatro casas vinhateiras.
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"A ideia era resgatar tudo o que estava ligado ao rabelo e assegurar que no futuro, através da regata, haveria sempre um número mínimo de barcos, para que a história não morresse", contou George Sandeman. O atual chanceler da Confraria do Vinho do Porto e administrador da Sogrape Vinhos, referiu ainda que "a competição é uma experiência muito bonita e marcante", que, além de ser "um momento histórico", é "um momento divertido, um pouco como beber o vinho do Porto".
À tarde, por causa da noitada
Com os anos, a forma de apreciar o vinho mudou, bem como mudou a regata, que se foi adaptando aos tempos. Inicialmente, a competição era feita logo pela manhã, algo que chocava com a festa da noite anterior. "Depois da noitada, ir numa regata era obra. Nós até estávamos firmes. Íamos para a linha, fazíamos a regata e comíamos um prato de tripas, mas as margens estavam completamente vazias. As pessoas estavam onde nós também deveríamos estar, na cama, a dormir", recorda com um sorriso George Sandeman. "Agora, temos o cuidado de assegurar que a regata é da parte da tarde e as pessoas já começam a entender que no dia 24 de junho há uma competição emblemática, que representa a história do vinho do Porto, que é um vinho de festa".
Jorge Rosas, o atual almotacé da chancelaria, mas também administrador da casa Ramos Pinto, realça que, "sem a regata, o barco rabelo seria apenas mais um objeto museológico". Por isso, o evento não só é uma diversão para quem nele participa e assiste, como também é uma forma de "manter viva a atividade dos artesãos que constroem e reparam os barcos", acrescenta.
Contudo, nem todas as casas participam na competição, por causa do custo. "Manter um barco destes exige esforço, um esforço sem grande retorno comercial, porque não é por se ter um barco na regata que se vende mais vinho do Porto", assegura Jorge Rosas. "Não se trata só da construção do barco, mas também da manutenção diária e anual, que às vezes fica mais cara do que o valor da aquisição do próprio barco", confessa.
Mas o motivo para continuar é nobre. "É uma forma de promover a festa da cidade, de promover o vinho do Porto e de não deixar que a tradição desapareça", acrescenta Jorge Rosas.