A colisão das aeronaves Yakovlev YAK-52 da patrulha acrobática Yakstar no decurso do Beja Air Show 2024 (BAS24), que redundou na morte do piloto espanhol Manuel "Coco" Rey Cordeiro, de 62 anos, resultou de lacunas nos procedimentos de treino da patrulha acrobática e do enquadramento regulamentar das atividades de treino acrobático.
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Estas são as principais conclusões do relatório final da investigação ao acidente que ocorreu cerca das 16.05 horas do dia 2 de junho de 2024, em Beja, no decurso do BAS24, da responsabilidade do GPIAAF - Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, publicado na passada sexta-feira.
A investigação foi coordenada pela Comissão Central de Investigação da Força Aérea Portuguesa, em face do contexto do evento que decorreu na Base Aérea 11, que identificou lacunas nos procedimentos de treino da patrulha acrobática associadas ao enquadramento regulamentar das atividades de treino acrobático em Portugal.
No relatório final do GPIAAF, pode ler-se que tudo estava a decorrer normalmente até à penúltima manobra "quando a aeronave YAK 04 executou a manobra de separação da formação e perdeu inicialmente altitude, existiu um ganho de velocidade face à formação, comprometendo a sua separação longitudinal e a subsequente subida para retornar à zona de demonstração aérea, levou ao cruzamento da trajetória da restante formação em voo, provocando a colisão com a aeronave YAK 03".
Do relatório constam quatro recomendações de segurança à organização da Patrulha Acrobática YAKSTARS, uma recomendação de segurança à Força Aérea Portuguesa, uma recomendação de segurança à Autoridade Aeronáutica Nacional e uma recomendação de segurança à ANAC.
Piloto saltou da aeronave e não abriu paraquedas
No dia do acidente, o JN revelou que a aeronave tripulada por "Coco" embateu com a cauda na hélice de outro avião da mesma patrulha, tendo na fase descendente da queda saltado do aparelho, que não tem ejeção automática das cadeiras de voo, tendo o corpo do malogrado piloto caído em cima da vedação de arame farpado da unidade militar. O paraquedas abriu só após o violento embate na rede.
Numa Nota Informativa publicada na altura do acidente pelo GPIAAF, foi referido que "o piloto iniciou a sequência final sem manter a separação do grupo, tendo colidido com uma outra aeronave, que provocou danos que levaram à inevitável perda de controlo da aeronave e a posição invertida da queda provocou uma violenta colisão no solo com subsequente explosão".
Além da morte de Manuel Rey, um experiente piloto da companhia Vueling, natural de Oroso (Corunha), o português Tiago Correia, de 37 anos, residente em Ramada, no concelho de Odivelas, conseguiu fazer aterrar o avião no takeaway de ligação entre a placa de estacionamento do Terminal Civil e as pistas da BA11. Quando entrou numa zona de mato, a roda esquerda do trem de aterragem partiu-se, o avião afocinhou e ficou virado de "barriga para cima", tendo o piloto saído pelos seus meios, sendo de imediato assistido no local pelos serviços de socorro e de saúde da base.