Moradores e comerciantes reclamam falta de espaços verdes e adiantam que negócios vão ser prejudicados.
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É a segunda renovação no espaço de 11 anos que a Praça Machado dos Santos, em Valongo, recebe. Mas, tal como a anterior, também esta nova intervenção está a indignar a população, que condena "o novo pedaço de cimento" da cidade. Entre comerciantes e população, a convicção é de que a nova configuração irá prejudicar os negócios que já atravessam um período negro e de que não há nenhum ponto de interesse que atraia pessoas.
Ao JN, a Câmara de Valongo confessou "desconhecer" as preocupações dos comerciantes, sublinhando que a Autarquia acredita que "este novo espaço e novas acessibilidades vão dinamizar" a zona da Praça Machado dos Santos e, "consequentemente, o comércio existente".
Nesta praça, história não falta... Poucos são os que se lembram do rinque de hóquei em patins - desporto-rei da cidade - que ocupava o centro da Praça Machado dos Santos, mas do "lago dos patos" e do "espelho de água", todos têm memória.
Ali mesmo, atrás do balcão de "A Moderna", uma retrosaria com quase 80 anos, José Neves, relembra a excitação dos jogos que juntavam centenas de pessoas e da beleza do espaço. "Toda gente vinha aqui para ver os jogos. Fizeram-se negócios à conta do ringue", recorda o comerciante de 77 anos.
"Depois fizeram o "lago dos patos", que era bonito, mas estava tudo ao abandono, e agora isto... Parece apenas uma eira, não tem nada!", atira José, que insiste que a nova configuração da praça vai prejudicar os negócios. "Eliminaram a rua e os clientes já estão fartos de reclamar", constata.
A eliminação da rua junto à capela da Senhora da Luz, esclarece a Autarquia, "pretende dotar a praça de maior conforto e segurança, melhorar o ambiente urbano e a qualidade de vida dos residentes e demais utilizadores daquele espaço urbano". Mas este argumento não parece convencer a população.
Para Luísa Pereira, da "Loja da Dona Luísa", as transformações do espaço foram indo "de mal a pior". "Os meus filhos chegavam aqui à loja e pediam sempre 25 tostões para ir andar de bicicleta na praça com os outros miúdos. Todas as semanas se fazia o baile do Belchior e vinha gente de todo o lado", lembra Luísa. "Agora não há nada que chame pessoas... é só cimento!"
Circulação pedonal
De acordo com a Câmara, a praça necessitava de intervenção porque já "apresentava degradação". É dito que a reconfiguração vai criar "uma zona de estadia de caráter urbano/lúdico".
Contudo, atira Carlos Loureiro, "a Machado dos Santos agora vai servir para os transportes públicos e pouco mais". "Admito que é bom mudar, mas para isto? Só pode ser para a Câmara poupar dinheiro em jardineiros", reclama o valonguense encostado à fachada da igreja, já que os bancos ainda não estavam de novo no seu sítio.
Por sua vez, Clarice Loureiro acredita que o mal está feito "desde que tiraram tudo". "Quando tiraram o lago dos patos e tudo à volta, foram cometidos muitos erros e agora parece que estão a a tentar remediar".
O município admitiu que nesta intervenção foram retiradas dez árvores, mas que outras dez foram plantadas. "As árvores foram retiradas porque estavam nos corredores de circulação pedonal e impediam que fosse feita a reformulação da via".
A nova disposição, insiste a autarquia, permitirá "obter um espaço amplo para ser usado e apropriado pela população e "moldável" a novas ocupações, temporárias, que, de forma rotativa, irão "chamar" as pessoas à Praça, o que não sucedia com o anterior espaço".