António Costa anuncia dentro de dias plano de revitalização para responder ao impacto na economia do fecho da central a carvão.
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Joaquim Marcão atravessa a rua principal do Pego, com um molho de grelos que vai cozinhar para o almoço. Olha em redor e desabafa: "Falta pouco para o Pego ser uma aldeia-fantasma". Em qualquer ponto da aldeia de Abrantes, avista-se a Central Termoelétrica que adotou o nome desta aldeia e que é motivo de conversa e de preocupações há meses (se não anos, quando se sabia que em 2021 não iria ser renovada a licença de exploração).
A unidade que produziu, até há uma semana, energia através do carvão foi desativada antes do fim da licença (acaba na próxima terça-feira), para pôr fim à utilização de energias fósseis. A população, e os trabalhadores entendem o princípio ambiental, mas preocupa-os o que aí vem depois do despedimento de cerca de 150 postos de trabalho diretos e indiretos na zona.
Para definir o futuro da central, o Governo abriu concurso que termina a 17 de janeiro. "Esta central é a mais moderna em operação na Península Ibérica", diz, com orgulho, Joaquim Marcão, informação confirmada pela Tejo Energia que, com a Trustenergy e a Endesa, gere esta estrutura com vista para o Tejo desde 1993.
Morte lenta
Com o fim da central a carvão teme-se o pior na aldeia com 2500 habitantes, ou seja, que as poucas habitações ainda com gente, na denominada "Aldeia das Casas Pequenas", se fechem de vez. Não porque as pessoas que estão a trabalhar na central habitem nesta aldeia. "Já aqui moraram muitos, mas foram saindo para Abrantes, Torres Novas, Entroncamento... A aldeia está a morrer e não é de agora", atira Manuela Sousa, de 78 anos. Com falta de gente nova para conversar, Joaquim Marcão continua o seu relato ao JN. Conta que teve reforma antecipada depois de ter sido despedido da Fundições do Rossio. "Já teve centenas de trabalhadores, assim como a Fundição do Tramagal. É despedir, é reduzir, e para onde vão os jovens? Embora!".
O pouco comércio - dois cafés, uma churrasqueira, um restaurante, um stand de automóveis - é a economia que resiste. António Larguinho, dono do restaurante Tulipa, lembra-se do Pego ter 20 a 30 cafés. "A central foi dispensando pessoas ao longo dos anos". Atualmente, "o Pego é a uma aldeia a morrer e se a central fechar é que a morte é certa".
Maior é a expectativa por parte do autarca de Abrantes. Há dois anos que pede um plano para responder ao impacto económico do fecho da central. "Alertei para uma transição planeada. As cerca de 80 pessoas que vão ser dispensadas, mais as 70 das empresas prestadoras de serviço poderiam já saber o que lhes vai acontecer", salienta Manuel Valamatos. E poderia reduzir os impactos "na ordem dos vários milhões de euros", na "economia regional". "Não é só Abrantes que vai ser afetado, será Torres Novas, Tomar, Entroncamento, de onde vêm trabalhadores e empresas para esta central todos os dias".
Divisão injusta
Manuel Valamatos conta com as verbas do Fundo da Transição Justa, outra das matérias que preocupam o autarca. "A repartição do dinheiro deste fundo [223 milhões que o Governo apresentou no acordo de parceria com a União Europeia para o Portugal 2030] é clara", diz. Em causa está a divisão deste pacote por três zonas identificadas por Bruxelas para apoiar a descarbonização: Matosinhos, Alentejo Litoral (Sines) e Abrantes (Pego). "Inicialmente estava prevista uma divisão por três, mas, entretanto, entrou na lista o Centro Litoral, as zonas de Leiria, Coimbra e Aveiro com as fábricas de vidro e de cerâmica. É injusto que a redução se faça na fatia que caberia à Central do Pego".
Dúvidas a esclarecer quando o primeiro-ministro, António Costa, anunciar o plano de revitalização económica da central dentro de dias. Carlos Alexandre, de 49 anos, está ansioso por esse momento. Com 27 anos de casa, vive no Gavião. "Com esta idade é ainda mais difícil arranjar emprego na zona". No gabinete de atendimento que o Instituto de Emprego e Formação Profissional instalou na Junta de Freguesia do Pego, ainda por lá não passou ninguém.