Gonçalo Gomes é sobrinho de um antigo morador da Real República Boa-Bay-Ela. Quando foi colocado em Sociologia, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (a faculdade mais próxima da república), o tio não lhe deu grande alternativa. "Vais viver para a Boa. Vais ver que vais gostar", foi o que Gonçalo lhe disse ter sido transmitido pelo tio. Ao fim de dois meses, o jovem não está nada arrependido. "Tem sido muito bom", aponta.
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Gonçalo é um dos cinco novos moradores da Boa-Bay-Ela, que passou de seis para 11 moradores no atual ano letivo. "Tivemos uma grande procura. Colocámos anúncios online, explicámos o funcionamento da república e houve muito interesse", aponta Mariana Paiva, moradora mais antiga da Boa.
Segundo a estudante de mestrado em Enfermagem, um dos motivos foi a privação de convívio durante os períodos mais duros da pandemia. "Muitos estudantes nem sequer vinham para Coimbra, porque tinham as aulas online. E os que vinham acabavam por ficar fechados no quarto. Nas repúblicas há sempre convívio, acabamos por estar juntos em grande parte do tempo", destaca, completando que nas outras, com quem os moradores da Boa-Bay-Ela mantêm boas relações, também tem tido procura e aumento de moradores.
Hugo Teixeira, de Gestão, também é um dos novos moradores, e concorda com Mariana. "Uma das razões que me fez vir para cá foi porque achei que nesta casa ia ter o que não teria noutras. Num apartamento é mais cada um por si", entende.
Influência dos antigos
Mariana Paiva aponta que os antigos moradores têm sido grandes embaixadores da Boa-Bay-Ela e têm-na recomendado a familiares e amigos que têm filhos a estudar em Coimbra. E essa recomendação parece ter resultado para Miguel Almeida e Gonçalo Queirós. Os dois estudantes de Medicina são oriundos do Porto e amigos há já vários anos. O pai de Gonçalo é amigo de um antigo morador, que os aconselhou a ir viver para a república. "Nem sabíamos o que era uma república, mas chegámos e adorámos. E tem sido uma experiência incrível", defende Miguel.
Gonçalo Queirós destaca o grande espírito de entreajuda que se vive numa república. "Fazemos mesmo parte do dia a dia da casa, o que é um crescimento muito grande, sobretudo para mim, que é a primeira vez que estou fora da casa dos meus pais", lembra.
A Boa-Bay-Ela vive este ano letivo com outra estabilidade, depois de a casa ter sido comprada entre os antigos e os atuais moradores, no final de julho. "É completamente diferente a casa agora ser nossa, o sentimento de pertença, que já existia, é agora muito maior. E temos outra autonomia para fazer obras e melhoramentos na casa", defende Mariana Paiva.
Interesse histórico protegeu casas
O reconhecimento, por parte da Câmara Municipal de Coimbra, das repúblicas de estudantes como imóveis de interesse histórico e cultural, veio trazer outra estabilidade a estas casas, sobretudo na proteção pela Lei das Rendas, evitando que estas aumentem consideravelmente. Desde 2018 (altura em que o regulamento do Município foi aprovado) foram já reconhecidas 16 das 26 repúblicas de estudantes de Coimbra.
Números
26 repúblicas de estudantes em Coimbra, sendo que 16 foram já reconhecidas como imóveis de interesse histórico e cultural pela Câmara Municipal.
25772 estudantes na Universidade de Coimbra, segundo os dados disponibilizados pela instituição. Estima-se que cerca de duas centenas habitem em repúblicas.