"Semeamos a confiança e ajudamos todos, sem questionar as necessidades de quem nos procura". Há três anos, o Restaurante Ferradura, na Maia, abriu as portas à solidariedade. Até hoje, já distribuiu milhares de refeições e, segundo o proprietário, Rui Redol, é o "obrigado de quem mais precisa" que o motiva a continuar.
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"Oferecemos sopa, fruta e pão a quem necessitar". O cartaz está afixado há três anos no restaurante no Castêlo da Maia, altura em que começaram a ajudar os mais carenciados. Foi no início da pandemia, que Rui Redol começou a ajudar voluntariamente muitas pessoas, com almoços gratuitos. Hoje, continua a distribuir cerca de 30 refeições diárias.
"As pessoas já nos conhecem. Quando têm alguém que precisa de ajuda dizem: vai ao Rui no Ferradura e fala com ele", explica o gerente do espaço que tem portas abertas há mais de 60 anos.
Quando decidiu apoiar na pandemia, o restaurante chegou a oferecer mais de 2600 refeições num mês. Mas a solidariedade "é algo que se molda", garante o gerente. E para que a iniciativa não perdesse força depois de um tempo, Rui repensou e reformulou as ajudas, para continuar a chegar a novas pessoas.
"Ao fim de um período, percebíamos que quem estava a ajudar eram sempre os mesmos. E por isso, mudávamos o conceito para sensibilizar de outra forma e chamar outras pessoas", explicou Rui Redol.
Desde então, o restaurante aderiu à iniciativa Sopas Pagas (em que as pessoas pagam a refeição de outros que procuram ajuda) e chegou mesmo a devolver sorrisos a várias crianças, com a recolha e entrega de brinquedos esquecidos em sótãos.
"Não queremos dinheiro"
Mas oferecer alimentação diariamente envolve grandes custos e é um esforço que não se pode fazer sozinho. O dinheiro, por exemplo, foi sempre algo que a casa não aceitou. "Queremos que as pessoas ofereçam a verdadeira ajuda e nem queremos que achem que usamos os apoios para uso próprio", esclarece o gerente.
É um esforço que "envolve todos": desde os amigos, familiares, entidades ou Junta de Freguesia. Até o padre daquela localidade já incentivou a comunidade a contribuir. "E olhe que no dia a seguir estavam mesmo cá à porta para nos dar alimentos", continuou Rui Redol.
O Ferradura já é conhecido pelos maiatos e os carenciados fazem fila na entrada diariamente. E para Rui Redol, "o obrigado de quem mais precisa é o melhor contributo que pode receber pelo apoio que oferece". "Enche-me a alma", explicou.
Vários casos urgentes
Por ser uma casa que se destaca pela informalidade e proximidade, passam pela porta do restaurante casos urgentes que vão além da necessidade de uma refeição. "Acabamos por saber de muitas histórias que encaminhamos para a Junta", sublinha o proprietário.
Mas também há o contrário. Pessoas que atravessam por períodos difíceis na vida, mas evitam estar na fila à porta do Ferradura para não serem reconhecidos. Mas Rui Redol é muito prático nessas situações: "Entendemos e respeitamos. Ajudamos quem mais precisa e as dificuldades podem chegar a qualquer altura e a qualquer um".
O proprietário acredita que "quem é voluntário uma vez, nunca deixa de o ser". Dessa forma, a ajuda que ofereceu no período conturbado da pandemia não se limitou e continua há três anos. O Ferradura, apoiado e seguido por mais de um milhar nas redes sociais, aceita todas as doações para que, todos os dias, possam continuar a ajudar os mais necessitados.