Não há risco de seca. Objetivo é aumentar a resiliência do sistema, criando uma alternativa, revela o novo líder da AdRA - Águas da Região de Aveiro.
Corpo do artigo
A região de Aveiro deverá passar a ter na torneira água do rio Águeda a partir do próximo ano, juntando-se assim ao rio Vouga, principal fonte da região. A informação foi revelada ao JN por Joaquim Baptista, novo presidente da AdRA – Águas da Região de Aveiro, a empresa que gere os serviços de água e saneamento de dez municípios do distrito de Aveiro. A entrada do rio Águeda na rede de captação da AdRA enquadra-se no próximo período de concessão, que se inicia em 2026, da Associação de Municípios do Carvoeiro-Vouga, fornecedora de água da região.
Não é por uma questão de seca, frisa o presidente da AdRA, pelo contrário. “Não temos problemas nenhuns de reserva de água, nem tal se perspetiva. Nesta matéria, esta região tem sido precursora. Foi em 1984, quando constituiu a Associação de Municípios do Carvoeiro-Vouga, composta por oito municípios dos atuais dez da AdRA, porque percecionou que um dia, só juntos, encontrando uma origem fiável, é que poderiam resolver o problema do ‘stress’ hídrico. E hoje temos origens, em quantidade e qualidade, para passarmos por qualquer momento sem dificuldade. Essa origem é o rio Vouga, onde existem as captações, num recurso abundante, mas a associação do Carvoeiro-Vouga pretende no próximo período de concessão de 30 anos, que começa em 2026, explorar também origens no rio Águeda para aumentar a resiliência do sistema e para, em caso de catástrofe num corredor, termos uma alternativa”, explica o responsável.
Joaquim Baptista, 56 anos, deixou a liderança da Câmara da Murtosa para entrar na ADRA no final de março. Não foi uma descoberta, porque já integrava os órgãos sociais, mas as responsabilidades enquanto presidente são outras. “Os dois primeiros meses foram extremamente positivos”, diz ao JN. “Encontrei uma empresa sólida, saudável, madura, consciente do caminho que fez e do que está por fazer. Capaz de prosseguir o seu rumo, sem perturbações”.
Quase 100% de cobertura
Na distribuição de água a taxa de cobertura é praticamente total, 99,7%. E no saneamento está acima dos 90%. “Aqui ainda temos algumas zonas para consolidar, nuns concelhos mais do que noutros, com destaque em algumas áreas de Vagos, Sever do Vouga e zonas menos populosas de Águeda, que esperamos resolver nos próximos cinco anos”, prevê.
O passo seguinte passa pela substituição das redes que a empresa recebeu, algumas das quais muito antigas. Mas não são só as redes antigas que estão na origem das perdas de água, mesmo que a AdRA seja “uma referência nacional nesta matéria”, lembra Joaquim Baptista.
Onde se perde menos água
“Das dez maiores empresas de distribuição de água, somos de longe a mais eficiente do país, com 18% de perdas. Os melhores exemplos europeus andam pelos 15%. Queremos chegar lá em cinto anos”, aponta.
Mesmo assim, são “milhões de litros” perdidos ou não cobrados, muitos dos quais com mão criminosa. Ligações ilegais, furtos de contadores e outros esquemas inimagináveis, como aquele que contamos ao lado, “fazem parte do nosso quotidiano”, afirma Joaquim Baptista. “Cada vez há mais pessoas a serem identificadas por ilicitude por haver mais fiscalização.
Temos muitos processos de contraordenação, mas procuramos sempre uma solução para regularizar a situação e a dívida porque fornecemos um serviço essencial, evitando cortar a água. Temos uma taxa de cobrança que ultrapassa os 99%”, revela ao JN.v
Ia buscar o contador do vizinho à noite e enchia a piscina
Há um indivíduo que durante o início da madrugada desmonta o contador da água do vizinho, monta-o na sua casa, enche a piscina e antes que o sol nasça volta a colocar o contador na casa do lado. Quando a “vítima” recebe a fatura da água do mês, não percebe a conta de centenas de euros. Pode conseguir amenizar a despesa junto da AdRA, mas não na totalidade. Esta, diz Joaquim Baptista, é uma das muitas falcatruas detetadas pela empresa de águas, mas há outras. “Ligações diretas ao ramal antes do contador são muito comuns; furtos dos contadores para os vender, devido ao metal, aos sucateiros levam-nos todas as semanas a fazer participações para a GNR. São várias as situações ilegais que poderíamos contar”, lamenta.
Saber mais
Dez municípios
A AdRA é detida pela Águas de Portugal (51%) e pelos dez municípios (49%), que serve: Aveiro, Ílhavo, Albergaria, Murtosa, Águeda, Ovar, Oliveira do Bairro, Estarreja, Sever do Vouga e Vagos.
Fornecedores
A Associação do Carvoeiro fornece 70% da água, 15% vêm das Águas do Douro e Paiva, que serve Ovar, e os restantes 15% são captações da AdRA, cerca de 60 furos.
7300km de rede
Tem a AdRA para gerir, é a maior do país. Quatro mil de abastecimento e três mil de saneamento.