As Senhoras de Fátima e d’Agonia, o Santo António e anjos são as “figuras de adoração” em miniatura com mais saída, das muitas que Roque Silva, de 62 anos, natural de Viana do Castelo, cria com a ajuda da mulher Cristina Araújo, em cápsulas de café de alumínio.
Corpo do artigo
A padroeira dos pescadores, Nossa Senhora d’Agonia, celebrada todos anos em agosto pela grande romaria em sua honra naquela cidade, é feita com cápsulas roxas, da exata cor do manto daquela santa. Roque utiliza “a cor natural” das cápsulas para cada figura: brancas para a Senhora de Fátima e castanhas para o Santo António. Cristina aproveita as de cores diferentes e trabalhadas com padrão para conceber anjos.
“Só utilizo cápsulas de alumínio. Tudo alumínio de várias cores. Todos os bonecos que faço são todos com a cor natural da cápsula. Tenho para aí umas 10 mil cápsulas de cem variedades de cores e muitas com desenhos”, conta Roque, descrevendo que começou a sua incursão pelo artesanato, nos últimos seis anos, a embelezar uma rua nas festas da Senhora d’Agonia. Passou a fazer cabeçudos e, depois, foi desafiado por uma sua conhecida “a fazer alguma coisa com cápsulas de café”. Criou um presépio que foi evoluindo para vários modelos, alguns deles dentro de latas de conserva, que funcionam como “cabana”. A partir daí, não mais parou, impelido pelas muitas ofertas de cápsulas e também por pedidos de amigos e conhecidos.
“‘Faz-me uma Senhora de Fátima’, pediram-me. Para fazer tinha de ser com cápsulas brancas. Só tinha para aí umas 30, mas lá consegui fazer meia dúzia. Depois, pediram a Nossa Senhora do Carmo, e eu pensei: ‘ó que trabalhos!’. E assim começou”, conta o sempre risonho artesão.
A Senhora d’Agonia surgiu de forma espontânea. “Tínhamos tantas cápsulas roxas, que disse: ‘temos de fazer com elas’. Comecei a pensar e lembrei-me da Senhora d’Agonia. Comecei a tentar e, depois, não sei com foi, dei um jeito e ficou tal e qual a Nossa Senhora inclinada [como a imagem original]”, descreve.
A sua nova criação resultou de tal forma, que até o pároco local lhe encomendou miniaturas da Senhora d’Agonia, feitas de cápsulas de café. “Comecei a aperfeiçoá-la. Depois um colega meu é amigo do padre. Deu-lhe aquilo e o padre encomendou logo não sei quantas. E esse meu colega até me disse: ‘vou-te dar uma benzida’. E pronto a partir daí nunca mais parei”, lembra Roque Silva, adiantando que a época das festas da cidade é sempre de “muitos pedidos”.
O artesanato é a sua alegria. Antigo empregado de escritório e sem um pulmão desde os 40 anos, debate-se atualmente com problemas de saúde, mas revela o gosto pelo trabalho com as mãos. Tanto que até costuma oferecer as suas peças. “Gosto de fazer. Também gosto de dar. Não é por ganhar dinheiro. Não me interessa muito. Gosto disto. Entretem-me. Fico contente e a mulher também”, comenta, concluindo que se alegra quando lhe elogiam o jeito para o artesanato: “O que as pessoas me dizem sempre é: você tem umas mãozinhas de ouro…”.