
Adelina Oliveira faz cestas
André Rolo / Global Imagens
São cerca de 20 e, em comum, têm o facto de manterem ainda vivas artes de outros tempos. A partir de hoje será possível, praticamente, bater-lhes à porta e ficar a conhecer o trabalho que desenvolvem e a sua história de vida.
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O projeto chama-se Rota dos Ofícios Tradicionais da Terra de Payva e tem como objetivo potenciar o turismo com base nos recursos endógenos do território. Integra pessoas de áreas diversas, como a cestaria, a sapataria, a moagem tradicional, a tecelagem e o artesanato em madeira ou em xisto. Há ainda barbeiros de outros tempos, quem trabalhe o cobre e o ferro e até um fabricante de redes de pesca artesanais. Mostram-se felizes por verem valorizada a sua arte que lamentam a falta de quem a aprenda.
Cestos de vime
"O meu pai fazia gigos e o meu avô também trabalhou na arte. A seguir a mim não há ninguém. Acabou", acredita Adelina Oliveira, de 64 anos. Em Real, mantém a funcionar uma oficina onde ela e o marido fazem cestos, baús e gigos de vários tamanhos e feitios. "Isto é trabalho de mãos duras", explica, dizendo que, já houve tempos áureos em que recebia o dinheiro ainda antes de ter a cesta pronta. "Com 12 anos ia ajudar o meu pai e comecei a gostar muito disto", conta. Agora continua a passar os dias entre os vimes e os bocados de madeira, que para ela não têm segredos. "Nunca fiz outra coisa além de cestos. Dá para sobreviver, mas ser artesão já não compensa", diz, esperando que com a rota venha mais gente.
Com gosto pela conversa, Justino Gouveia Coelho, de 78 anos, tem o mesmo desejo: "Gosto de ser moleiro e de mostrar o que faço às pessoas e espero que venham turistas". "Isto vai ajudar a divulgar", acredita. À beira rio, em Cabril, São Martinho, mantém a funcionar um moinho que já foi do bisavô e passou de pai para filho. "Costumo dizer que nasci no meio da farinha. Mesmo quando fui maquinista da CP vinha aqui todas as semanas. E quando me reformei voltei à farinha".
Farinha para papas e broa
É o único moinho a funcionar no concelho e continua a ter clientes regulares que procuram farinha para papas e broa. Ele conhece de cor cada uma das peças que fazem trabalhar o moinho, algumas mais velhas do que ele.
Na mesma freguesia, Maria Bernardes sonhou desde criança ser tecedeira ou costureira, mas o pai acabaria por pô-la a criada de servir. Anos mais tarde, uma das filhas começou a aprender as artes do tear e ela aproveitou e aprendeu com ela. Tem 81 anos e continua a fazer mantas e tapetes. "Antigamente era tudo feito com tiras velhas de roupa. Agora é tudo com tiras novas", explica a "tia Micas". Sempre que pode está no tear e, muitas vezes, desfaz e volta a fazer até ficar "como tinha na cabeça". Também ela teme ver morrer a arte. "Tinha uma neta que dizia que queria o tear da avó, mas nunca veio aprender", conta. "Gosto do meu trabalho e de o mostrar, mas os anos já são muitos".
DADOS
20 artesãos integram a Rota dos Ofícios Tradicionais da Terra de Payva. À porta de cada um há uma placa identificativa.
Quatro rotas
A rota está dividida em quatro percursos temáticos: da Madeira e Outros, do Metal e das Pedras, dos Tecidos e Calçado e da Gastronomia. É aconselhável marcação no Posto de Turismo ou com os artesãos.
Aplicação móvel
O projeto é promovido pela Câmara e pela ADRIMAG, sendo financiado pelo Norte2020. Contou com a colaboração de uma equipa de jovens paivenses e inclui brochuras, sinalética e uma aplicação móvel.
Oferta diferenciadora
"Este é um potencial turístico que não está explorado. São ofertas diferenciadoras numa altura em que a procura de alojamento no concelho está a crescer. Queremos valorizar e dar a conhecer o que é nosso", diz o vereador José Manuel Carvalho.
