Eram portugueses. Emigraram e fizeram fortuna no Brasil em meados do século XIX. Mas voltaram depois às raízes e investiram no desenvolvimento da comunidade. Construíram casas, muitas delas apalaçadas, escolas, igrejas e apoiaram outras obras sociais, como a Santa Casa da Misericórdia. Ficaram conhecidos como "brasileiros de torna-viagem". Para preservar e divulgar o património, a Câmara de Paredes está a criar uma rota no concelho.
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Adriano Moreira de Castro emigrou para o Brasil com 14 anos. Quando voltou, construiu a Casa da Castrália e uma escola, em Louredo, e apoiou a construção de um hospital, entre outros. António Pereira Inácio (comendador) partiu para o Brasil, criança, com os pais. Lá, chegou a ter mais de 10 mil operários e empregados e assumiu-se como benemérito. Para a terra natal, Baltar, enviava "avultadas remessas" para promover o desenvolvimento da localidade, sobretudo ajudando os mais pobres, com, por exemplo, a construção ou organização de escolas e de casas, cantinas ou cursos de alfabetização.
A marca que os brasileiros de torna-viagem deixaram em Paredes está a ser investigada por Alda Neto há 20 anos. Quando começou, não existia praticamente levantamento. Já identificou mais de 20 edifícios. "Muitas vezes, o sucesso destas pessoas não era bem visto. Noto agora uma mudança de mentalidade. É pena que alguns edifícios tenham desaparecido", afirma. A docente vai lançar um livro sobre esta história de Paredes, mas acredita que há ainda muito trabalho a fazer e que, além de uma rota, devia haver um alargamento ao Vale do Sousa. Garante ainda que é essencial envolver os habitantes. "A partir do momento em que a população olhar para isto como seu e como algo que é preciso valorizar, 90% do trabalho estará feito", sustenta.
A Câmara está a criar uma rota para "valorizar a memória e a investigação" deste património. Foi já marcado o Trilho de Louredo da Serra, que irá ser homologado ainda este ano, e o Trilho de Baltar, refere a vereadora da Cultura e Turismo, Beatriz Meireles.
A maioria dos edifícios, privados, é, para já, apenas visitável pelo exterior. Mas há outros que o podem ser com marcação prévia. Exemplo disso é a Casa da Castrália, um dos ex-líbris do projeto. "Está ali uma pérola de Louredo e de Paredes. Temos vaidade nisso", admite Joaquim Pacheco, um dos três coproprietários.
Apesar de precisar de restauro, ainda tem dentro madeiras e pinturas originais. Por terem já idade, os donos estão a vender o imóvel e defendem a aquisição pelo Município. "Nem todos os edifícios estão em bom estado de conservação", admite Beatriz Meireles, referindo que a "Câmara pondera a aquisição" de alguns para continuar a estruturar este projeto", mas defendendo que "são necessários mais apoios, a nível nacional".