"É uma tristeza. Falta tudo! Falta vir às farturas, à feira da loiça, faltam as pessoas nas ruas. Tanto, que nem dei conta que a procissão foi no domingo e fiquei a pensar se ainda seria no próximo fim de semana".
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O desabafo é de Isilda Monteiro, 83 anos, que na terça-feira de manhã, sentada no jardim envolvente da Igreja do Bom Jesus de Matosinhos, assistia à missa solene presidida por D. Manuel Linda, bispo do Porto. Foi um dos momentos altos da Festa do Senhor de Matosinhos que a Câmara decidiu manter. Já as habituais três semanas de diversão deram lugar a quatro dias de atividades, que foram transmitidas pelo Facebook e pela televisão.
Em dia de feriado municipal, e dos 80 anos da irmã Adosinda, de quem estava acompanhada, Isilda fez questão de "ao menos cumprir a tradição de assistir à missa cantada". Mas, ao contrário dos outros anos, só o pôde fazer do lado de fora da igreja: "Como me esqueci de trazer a mala, também não trouxe máscara", contou, descontente.
"A festa é nenhuma"
Com a Avenida de D. Afonso Henriques - onde todos os anos se concentram os comes e bebes da festa, assim como as barraquinhas da feira de artesanato - deserta, Nuno Cardoso, da confeitaria Duquesa, sentiu necessidade de "ao menos estar a acompanhar a transmissão da missa pela televisão".
"A festa é nenhuma, inexistente!", desabafou ao JN o comerciante, explicando que "não há comparação possível com o passado". "Neste dia, tínhamos as 23 mesas o dia todo repletas e as três semanas da Festa do Senhor de Matosinhos eram um bónus anual que ajudava as contas da empresa. Tudo isso desapareceu", disse, desolado.
Também José António, 71 anos, que passeava pelo Jardim Basílio Teles, confessou "nunca ter passado por semelhante". "Respeito as decisões dos nossos governantes , mas é uma tristeza muito grande, um vazio".
Naquela que é uma das maiores romarias do Norte do país, faltaram ontem também os restaurantes cheios de gente, como é regra, por exemplo na Rua de Heróis de França.
"É triste ver as mesas vazias e não haver nem iluminações da festa, nem carrosséis", disse Cidália Silva, que prefere ter a peixaria aberta neste feriado municipal e gozar o do S. João, que este ano também será de confinamento. "Não faz mal, compra-se as sardinhas e fazem-se em casa", concluiu.