Comerciantes temem quebra dos negócios com pedonalização das ruas de Santa Teresa, da Fábrica e de Cândido dos Reis, no Centro Histórico da cidade.
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É com expectativa e algum receio que os comerciantes das ruas de Santa Teresa, da Fábrica e de Cândido dos Reis, no centro do Porto, encaram a pedonalização. As obras arrancaram este mês. Para já, o efeito visível é o estaleiro em que se transformaram os arruamentos (intervenção em Cândido dos Reis apenas acontecerá após o verão), daí que só no fim da empreitada os lojistas possam aferir, literalmente, os resultados.
Nesta fase, quem tem negócios antecipa tratar-se de uma "empreitada para servir, sobretudo, os turistas". É a opinião de Júlio Duro, responsável pela Intimoda, um estabelecimento que vende roupa e está na Rua de Santa Teresa há mais de duas décadas. Também Maria Fernandes, de passagem pelo local, afirma que a despesa "não se justifica" e "só interessará ao turismo". Para esta portuense, "a cidade tem muito mais para fazer e prioritário".
"Perder a essência"
Júlio Duro entende que a pedonalização "não será vantajosa" para si, porque "os lugares de estacionamento vão acabar". Tem clientes que vêm de fora e que estacionavam por ali para fazer as compras. A esta distância temporal - os trabalhos vão durar 60 dias -, não tem bom augúrio. "Quando isto ficar pronto é que se verá. Mas a cidade tem vindo a perder a sua essência. Quem vem de fora diz-nos isso. Olhe-se para Cedofeita e compare-se com o que era. O centro da cidade está a mudar e a virar-se para o turismo e para os bares. A Câmara do Porto não está a olhar pelo comércio tradicional. Para fazer compras, as pessoas deslocam-se aos centros comerciais", queixa-se Júlio Duro.
"Mais fácil para limpar"
Ao fundo da Rua da Fábrica, na Soares Óptico, uma casa com 63 anos, a preocupação também tem a ver com o estacionamento. Esta loja de óculos orgulha-se de ter clientes fiéis, alguns já com uma certa idade, que chegam à rua de táxi ou transportados por familiares. Para o gerente António Carvalho, "estas situações têm de ter uma solução". O "acesso tem de estar garantido", insiste. Para já, está na "expectativa". Na informação adiantada pela autarquia à Imprensa, foi transmitido que as ruas ficarão em Zona de Acesso Automóvel Condicionado (ZAAC), como se verifica na Ribeira, em que existem pilaretes e estes só baixam mediante um comando.
O mesmo problema, de acesso, é colocado por Rui Avelar, do restaurante Cozinha dos Reis, na Rua de Cândido dos Reis. "Não sei como será para os fornecedores, para as cargas e descargas. Terá de haver uma solução", afirma o responsável pelo restaurante, com esplanada, confiante, ainda assim, de que a pedonalização irá embelezar a rua. "O piso vai ficar todo nivelado e será diferente do atual, tornando-se mais fácil para as limpezas. E de manhã, quando chegamos, encontramos de tudo um pouco... Pelo que me transmitiram, vai ficar bonito", diz, manifestando, todavia, a incerteza quanto ao estado em que ficará a rua durante as obras.
A saber
Rua de S. João
Com o objetivo de tornar o arruamento mais seguro para os peões, o Município do Porto vai inverter o sentido de trânsito da pedonalizada Rua de S. João, a partir de amanhã. O acesso viário será feito através da Rua de Mouzinho da Silveira no sentido ascendente, obrigando, na sua saída, à viragem à direita para a Rua do Infante D. Henrique.
Pôr limites
A medida vai de encontro a um problema levantado pelo JN, querendo a Câmara "limitar a procura desta zona aos veículos e combater o estacionamento abusivo".